A minha mala de viagem é malandra. Às vezes muda as minhas coisas de sítio e ri-se de mim no escuro. Tira de um bolso e põe no outro. Eu ralho, ela ri-se.
A minha mala de viagem gosta de andar no escorrega das malas. Quando aterra no tapete, dá um grito e bate palmas. Eu tenho vergonha, ela não.
A minha mala de viagem veio com um livro de instruções, tem uma personalidade complexa.
A minha mala de viagem adormece no comboio. Fica com um fio de baba pendurado no fecho. Quando acorda, desliza na direção certa e chega sempre ao destino.
A minha mala de viagem assobia nas filas e nas escadas rolantes. Nunca apressa as rodinhas. Tem tempo para tudo. E espaço para tudo. É gorda e tem as costas largas, nunca se queixa.
A minha mala de viagem anda comigo ao colo. Engole os sapos todos e também os meus sapatos. Às vezes não traz as minhas cuecas ou a escova de dentes. Ela ri-se. Eu não.
A minha mala de viagem anda de lado ou então às voltinhas. Vai sempre à minha frente e puxa por mim.
Eu sigo-a, porque sou mole e quadradona.
Vou para onde me levam.