Se a vida não fosse absurda, o Albert Camus fazia hoje 100 anos.
Felizmente, a vida é mesmo absurda e o Albert Camus escreveu grandes romances
sobre isso (ou apesar disso) (ou além disso).
O Albert Camus é eterno. Continua
de carinha laroca com três linhas na testa e cigarro ao canto da boca. Assim:
Eu conheci as palavras de Camus antes de lhe
conhecer a carinha laroca com três linhas na testa e cigarro ao canto da boca. Agora que penso nisto,
é como se o tivesse conhecido online, eu e o Camus a teclar no messenger.
Eu pergunto: R U there? Ele responde:
Aujourd’hui,
maman est morte. Ou peut-être hier, je ne sais pas. J’ai reçu un
télégramme de l’asile: « Mère décédée. Enterrement demain. Sentiments distingués. » Cela ne veut rien dire. C’était peut-être hier.
Li o Estrangeiro na idade certa. Tinha 16
anos, acho, e andava com o moço de mão dada pela rua. Depois voltei a ler o
Estrangeiro na idade certa. Tinha 20 e poucos. O Estrangeiro e eu éramos
cúmplices, ele ia ao volante e eu ia no lugar do morto. Depois voltei a ler o
Estrangeiro na idade certa. Tinha 30, ou quase 30, e desta vez até o li em
francês, oh là là ! Nessa altura, juntámos os trapinhos, passámos a ser
roommates. Ele dorme na casinha dos livros e eu durmo com outro homem numa cama
king
size. Isso é-lhe indiferente. O Estrangeiro não gosta de
ninguém. Está-se nas tintas para mim.
Who cares?
Eu também me estou nas tintas para ele.