Em poucas semanas já finaram umas quatro ou cinco e a morte é sempre súbita. Zás, morreu. Falta-lhes o fôlego e sai-lhes um último
suspiro de tinta, a sílaba derradeira, é triste. Resta-me sacudi-las na esperança de que voltem à consciência, mas isso nunca acontece. Ficam para ali mudas e vazias, já
não há mais caneta para ninguém.
Isto incomoda-me bastante, sobretudo porque me morrem sempre nas mãos, às vezes mancham-me os dedos, é aborrecido.
Isto incomoda-me bastante, sobretudo porque me morrem sempre nas mãos, às vezes mancham-me os dedos, é aborrecido.
À primeira vista trata-se de mortes naturais, mas
esta quantidade considerável de canetas moribundas não me parece nada natural.
Fiquei mais atenta à minha escritura e começo a desconfiar da
minha mão direita.
Se calhar os meus dedos andam a assassinar canetas e eu
ainda não dei por isso. Sugam-lhes a tinta às escondidas. Ou asfixiam-nas
assim: polegar contra indicador.
É bem possível.
Mas não há como provar isso.
Mas não há como provar isso.
Já se sabe que, na
escrita, a justiça ficou no tinteiro. Não passa de letra morta.
A história é escrita
pelos vencedores.E em terra de canetas, quem sabe escrever é rei.