A propósito da proteção de dados pessoais, gostava de escrever umas notinhas sobre notinhas. Há gente que usa notinhas para isto e para aquilo, daqueles post-it de colar na testa dos armários, é um hábito algo desconcertante. Lembretes e recados, números de telefone, listas de compras ou de ideias, sticky notes de todas as cores e feitios que acabam enroladas a um canto quando perdem o norte e também a cena sticky. Eu sou dessas pessoas desconcertantes que usam notas peganhentas para tudo e mais alguma coisa e tenho este tique nervoso de arranjar bloquinhos novos a toda a hora, porque aquele é roxo e este aqui é redondo e hei de guardar as minhas notas até ao fim, mesmo as que ficarem por escrever. É óbvio que na era da técnica, as minhas notas peganhentas não valem um, porque são uma coisa do passado. Eu sei disso perfeitamente, mas a verdade é que gosto mais das minhas notas do passado do que da era da técnica. Quando encontro uma nota enrolada no bolso é como se ganhasse uma memória na rifa, fico cheia de esperança e expectativa. O que estará dentro desta nota? Talvez o nome de uma pessoa sublinhado três vezes ou um grito: Marcar dentista!, um pedido: responder mail 30/10, uma ordem: Ligar pais. Felizmente sou uma pessoa do futuro e já me habituei às Sticky Notes do Windows 7. Tenho umas quantas no Desktop e até dá para mudar de cor e de tipo de letra. Neste momento tenho uma nota pequenina verde, outra grande e azul e outra intermédia e cor-de-rosa. Eu bem tento brincar com as cores e os tamanhos, mas as notas do futuro não têm piada nenhuma. Além de não se pegarem aqui e ali, também não se perdem e isto é muito aborrecido. As sticky notes verdadeiramente sticky agarram-se ao que não devem e andam por aí descoladas e perdidas. Eu gosto de encontrar uma nota no fundo de uma gaveta: Reservar, 5 pessoas, 20h.
Tenho pelo menos dois blocos clássicos de post-it amarelos e dois blocos a imitar rolos de fotografia, vários bloquinhos pequeninos com setinhas, seis blocos a imitar balões de diálogo, um conjunto de oito blocos da Lotta Jansdotter com folhinhas de árvore e mochos, e tenho ainda um outro redondo com o Ampelmann parado, tipo sinal vermelho para os peões. Gosto aos montes das minhas notas peganhentas. E também gosto de notas peganhentas aos montes. No outro dia vi mesmo um monte de notas peganhentas. Não era um bloco, mas sim uma torre de post- it: ia do chão até à minha cintura, não estou a brincar. Ainda não tinha visto o preço e já estava disposta a pagar montes de notinhas pelo monte de notinhas, mas depois pensei no tamanho do meu rabo e achei que a torre de notas adesivas ia passar os dias a cair ao chão. Então contornei o tique nervoso e decidi que a torre merecia outro destino.
O que eu mais gosto nas minhas notas peganhentas é a certeza de que elas não vão ser lidas pelos serviços secretos americanos, a não ser que os senhores venham enfiar as mãos nos meus bolsos, o que até pode vir a acontecer, encontrar um americano no bolso do meu casaco. Na era da técnica tudo é possível. Quando olho para as minhas notinhas, fico logo com uma nostalgia de pessoa velha e meto as mãos no bolso. Eu também sou uma coisa do passado.
Agarro-me ao que não devo e também ando por aí descolada e perdida.