Sete horas e só o tempo acontece, nada mais. No céu, nuvens densas e escuras. Não, uma só nuvem densa e escura. Possibilidade de precipitação: 80%. Cada vez mais densa, cada vez mais escura. Períodos de céu muito nublado. Máximas previstas para hoje: 18º C. Sete e três. Trevas. Condições favoráveis à ocorrência de trovoada e aguaceiros fortes. Qualquer coisa surge, mas não o dia, não o sol. No céu, branca e intermitente, uma luz acende e apaga. Uma luz acende e apaga, mas ninguém vê, porque as pessoas não veem quando dormem. Humidade: 60%. As pessoas dormem. Qualquer coisa acontece. Sete e um quarto. Um estrondo magnífico, de Juízo Final. As pessoas que dormem acordam. As pessoas que dormem levantam-se, descabeladas, espreitam o céu com os seus olhinhos pequenos. Nos seus olhinhos, qualquer coisa acontece. Qualquer coisa terrível, terminante. Previsível. O vento sopra moderado de sudeste. Sete e dezoito. Eventual formação de lençóis de água. As pessoas que dormem tomam banho. Penteiam os cabelos, vestem-se, saem de casa. Possibilidade de cheias rápidas em meio urbano. As pessoas que dormem enfiam-se num buraco muito fundo. Sete e trinta e nove. Um homem toca saxofone no buraco muito fundo. As pessoas que dormem ouvem. Um bramido de outro mundo e o metro chega. Previsível. Possibilidade de inundações de estruturas urbanas subterrâneas. As pessoas que dormem entram no metro e partem. Qualquer coisa acontece. Qualquer coisa terrível, terminante. Mas as pessoas que dormem não veem. Dentro dos seus olhinhos, um céu muito nublado, possibilidade de aguaceiros. Uma luz intermitente que acende e apaga. Mínimas: 12º C.
Farta desta terra.
Farta desta terra.
(A chamada gota de água.)