- Ó mãe, o pai é biológico?
- Como?!
- O pai é biológico?
- Se o pai é biológico?!
- Sim, se é biológico.
- Em que sentido, filho?
- No sentido biológico. Se é biológico.
- Sim, é.
- Ah...
- Então porquê, filho?
- Por nada. É que a Ritinha lá da escola diz que o pai dela não é biológico.
- Pois. Às vezes é assim.
- E vinha com rótulo?
- Com rótulo?!
- Sim, com rótulo!
- O quê, filho?
- O pai!
- Com rótulo?!
- Sim, a dizer que é biológico!
- ... Não, não vinha.
- Então como sabias que era biológico?
- Olha, sabia!
- Provaste-o antes de comprar?
- Mais ou menos, sim.
- Ó mãe, e eu sou biológico?
- Sim, és.
- Sou cem-por-cento natural?
- Sim, és.
- Sem corantes nem conservantes?
- Exacto.
- E sou comestível?
- Não, filho, que disparate.
- Os produtos biológicos não são para comer?
- Alguns são, outros não.
- Ah. Então eu sou para quê?
- És para estudar. Vá, vai fazer os trabalhos de casa.
- Ó mãe, tu também és biológica?
- Claro.
- Então no fim não sobra nada, pois não?
- Não sobra nada?!
- Pois!
- Como assim, filho?
- Somos uma família biodegradável!