terça-feira, 24 de maio de 2016

Deolinda

No outro dia fomos ver os Deolinda. Em plena Bruxelas.
Foi um grande fon fon fon.
Desta vez até havia bateria e as canções bateram mais forte.
Gosto da Ana Bacalhau. Do seu corpo pequeno. Da sua voz enorme.
Daquela sua maneira de estar em palco como se estivesse numa sala de estar.
Falou em inglês e português, because my French is pathetic.
O meu francês também é patético. Desolée.
A Ana Bacalhau não é pateta nenhuma, mas faz patetices em palco. Não tem medo do ridículo.
Gosto à farta de mulheres assim. E de homens também.
Sem medo. Sem entraves.
A Ana Bacalhau faz e acontece. Abana a cabeça e o corpo, arregaça as mangas, escarra para o lado. Ninguém a trava. Nem sequer a saia travada e muito curta. Ou os saltos muito altos. Ela diz: Agora sim, cantamos com vontade! E eu tenho ganas de me levantar e ir atrás dela. Fazer uma revolução qualquer num lugar qualquer.
A Ana Bacalhau canta: Eu não sei se tu sabes, mas fizeste o meu dia tão bem.
E o dia pôs-se logo bom.
As letras do Pedro Silva Martins são pequenos truques de magia. De repente ficamos carentes e abismados. A ouvir a história de um amor clandestino. A ver uma mariposa, bela e airosa.
As canções que tu farias é uma bela homenagem a António Variações. A Ana Bacalhau pergunta: Que espaço ocupam as canções que não cantaste? E somos nós que dizemos: Ó ai.
Um ó ai nostálgico.
Ligeiramente angustiado.

Perfeitamente português.

Foi tão bom.
Foi tão bem.

Belo movimento perpétuo associativo.