Comecei o ano a abrir envelopes em grande estilo. Com um só golpe incisivo e rigoroso.
Zás.
É uma experiência aguçada.
O meu objeto cortante é belo e cruel ao mesmo tempo.
Não é um canivete suíço. Não é uma faca de aço inoxidável. Não é uma espada cintilante nem uma tesoura de poda ou das unhas. Nem uma navalha ou uma serra ou um punhal.
Esqueçam.
O meu objeto cortante é um pássaro. Pequenino e sofisticado. Como outros passarinhos.
Baloiça de um lado para o outro e roda sobre si próprio. Anda pela casa em ligeiros voos e assobios.
Mas atenção: a sua cauda é terrível. Cativa e corta ao mesmo tempo.
É um pássaro afiado nas pontas.
Os envelopes, coitados, ficam boquiabertos.
O Birdie foi desenhado pelas mãos apuradas de Yohei Oki.
A embalagem inclui umas palavras do designer japonês. Um inglês carente que diz, entre outras coisas:
Quando foi a última vez que escreveu uma carta?
Ui!
Palavras lancinantes. Especialmente quando ditas por um pássaro.
Fui a correr escrever um postal.
Até piei fininho.