Ninguém sabe de onde vem o senhor Antónimo. Se lhe perguntam, não responde. Se insistem, começa a guinchar. O senhor Antónimo não presta contas a ninguém. Não trabalha, não paga impostos, não recebe, não gasta. Não é eficiente, nem pontual, nem responsável. O senhor Antónimo não sabe ver as horas nem olhar para um mapa. Se calhar, anda sempre perdido. Além disso, tem uma estranha forma de caminhar. Quando avança com o pé direito, inclina-se para esquerda. Quando avança com o esquerdo, inclina-se para a direita. De vez em quando, tropeça e bate com a cabeça, escorrega em qualquer coisa, cai no meio do chão. Como está escuro, anda sempre aos tombos. É que o senhor Antónimo dorme durante o dia e só sai de casa à noite. Vai vivendo disto e daquilo, come o que os outros deitam para o lixo. O senhor Antónimo nunca foi ao jardim zoológico. Nunca comeu um gelado. Nunca comprou o jornal. É um homem muito velho, mas parece um menino pequenino. Se lhe dizem "Bom dia", deita a língua de fora. Se lhe dizem: "Faz isto", ele faz outra coisa qualquer. Se lhe dão um abraço, ele dá pontapés. Se lhe dão de comer, ele cospe. Se lhe oferecem qualquer coisa, ele recusa. O senhor Antónimo não quer ficar a dever nada a ninguém. Não tem um clube de futebol nem joga no Euromilhões, porque não acredita na sorte nem na Virgem Maria. O senhor Antónimo não gosta de pessoas nem de bichos nem de plantas nem de pedras nem de santos. Não bebe café com leite, não come torradas, não boceja nem se espreguiça. O senhor Antónimo está sempre do contra. Como se não bastasse, veste sempre a roupa do avesso e depois ri-se, porque as etiquetas lhe fazem cócegas no queixo. O senhor Antónimo não sabe ler nem escrever, está-se borrifando para o mundo. Quando o puxam de um lado, vai para o outro. Se o tratam bem, reage mal. Se lhe pedem um favor, diz uma asneira. Nunca toma banho. Nunca sorri. Nunca pisca os olhos. A única coisa que o senhor Antónimo gosta de fazer é correr atrás dos ratos e falar sozinho numa língua esquisita que ninguém entende. Se a rua vai para cima, ele vira para baixo. Se a seta aponta para a direita, ele vai para a esquerda. O senhor Antónimo não vai propriamente a lado nenhum. Anda por aí à deriva. Não sabe de onde vem nem para onde vai. É esgrouviado.