terça-feira, 27 de maio de 2014
segunda-feira, 26 de maio de 2014
O Supergigante vem aí a correr
O Supergigante vem aí a correr. Deve estar com pressa.
Eu também estou com pressa. Enquanto ele vem e não vem, vou limar as unhas. Estão mesmo feias. E a seguir vou pintar as unhas e depois vou ler uma banda desenhada e depois vou pedalar na bicicleta.
A espera dá tempo para tudo. Por exemplo, neste momento estou na varanda a apanhar sol belga e a comer pistácios.
Há aqui um pistácio mais retraído, vou tentar abri-lo. Eu gosto dos pistácios que dão luta.
Afinal não li uma banda desenhada. Fiz outras coisas.
Já parti uma unha a tentar abrir o pistácio retraído. Depois insisti e magoei-me.
Agora estou a chuchar no dedo e a escrever sobre o pistácio retraído.
Mais valia fazer-me à estrada. O Google diz-me que, daqui ali, são dois mil quilómetros e que, se eu fizer metade do caminho a pé, vou demorar mais de 200 horas.
Se for a correr, devo demorar 100.
Se for de bicicleta, talvez demore 50.
Neste momento estou a fazer o almoço. A seguir vou almoçar e depois vou encher os pneus.
Eu corro para o Supergigante e o Supergigante corre para mim.
sábado, 24 de maio de 2014
A toda a velocidade
- Olha, afinal é um livro.
- O quê?
- O Supergigante!
- A sério?
- Sim. Estás desiludido?
- Um bocado...
- E o homenzinho?
- Não sei!
- Se calhar também está desiludido.
quarta-feira, 21 de maio de 2014
Em passo de corrida
- Não sei.
- Será o Supergigante?
- Acho que não.
- Tu já viste o Supergigante?
- Não. Só ouvi falar.
- Será uma pessoa?
- Acho que não. Mas vem aí!
- Se calhar é um super-herói.
- Pois... Se calhar.
Partida, largada, fugidaaaa!
- Vem aí o Supergigante!
- Vem aí o quê?
- O Supergigante.
- O que é o Supergigante?
- Sei lá! Mas deve ser enorme.
- Pois é.
- E vem aí a correr.
- Que estranho!
terça-feira, 20 de maio de 2014
O pássaro cá atrás
Há um pássaro novo cá atrás. Acorda-me todas as manhãs aos gritos e eu rogo-lhe pragas. O pássaro canta como um despertador: um grasnar histérico e insistente, que se repete até à exaustão. Não deve ser um pássaro bonito. Se fosse, não precisava de grasnar assim. A culpa é da primavera, quiçá. Levanto-me e vou à casa de banho. O pássaro continua a grasnar mesmo em cima da cabeça. Deve estar a marcar território ou então a afugentar um inimigo. Em qualquer dos casos, deve estar a ter sucesso porque os outros pássaros piam fininho. Vou para a cozinha e corto fatias de pão com a minha faca serrilhada de aço inoxidável. Eu, se pudesse, voava para longe com o meu ninho debaixo do braço. O pássaro continua a grasnar toda a gente. Deve ser um corvo, porque os corvos são feios e também não cantam. Grasnam. Além disso, comem o que vier ao bico, incluindo cadáveres. Os corvos são nojentos. Bebo café com leite e penso neste pássaro recém-chegado. Se calhar está muito aflito. Todos os imigrantes se afligem no princípio. Deve estar com medo da vida ou da morta. Ou então não gosta de passarinhas e ainda não saiu do armário. Estou a comer pão com doce de amora e penso na pressão de ar, nos chumbinhos que moravam em latas redondas. Sempre gostei do barulho dos chumbinhos dentro da lata. Infelizmente, nunca tive pontaria.
Se tivesse, era já. PUM!
Se tivesse, era já. PUM!
segunda-feira, 19 de maio de 2014
O senhor Antónimo
Ninguém sabe de onde vem o senhor Antónimo. Se lhe perguntam, não responde. Se insistem, começa a guinchar. O senhor Antónimo não presta contas a ninguém. Não trabalha, não paga impostos, não recebe, não gasta. Não é eficiente, nem pontual, nem responsável. O senhor Antónimo não sabe ver as horas nem olhar para um mapa. Se calhar, anda sempre perdido. Além disso, tem uma estranha forma de caminhar. Quando avança com o pé direito, inclina-se para esquerda. Quando avança com o esquerdo, inclina-se para a direita. De vez em quando, tropeça e bate com a cabeça, escorrega em qualquer coisa, cai no meio do chão. Como está escuro, anda sempre aos tombos. É que o senhor Antónimo dorme durante o dia e só sai de casa à noite. Vai vivendo disto e daquilo, come o que os outros deitam para o lixo. O senhor Antónimo nunca foi ao jardim zoológico. Nunca comeu um gelado. Nunca comprou o jornal. É um homem muito velho, mas parece um menino pequenino. Se lhe dizem "Bom dia", deita a língua de fora. Se lhe dizem: "Faz isto", ele faz outra coisa qualquer. Se lhe dão um abraço, ele dá pontapés. Se lhe dão de comer, ele cospe. Se lhe oferecem qualquer coisa, ele recusa. O senhor Antónimo não quer ficar a dever nada a ninguém. Não tem um clube de futebol nem joga no Euromilhões, porque não acredita na sorte nem na Virgem Maria. O senhor Antónimo não gosta de pessoas nem de bichos nem de plantas nem de pedras nem de santos. Não bebe café com leite, não come torradas, não boceja nem se espreguiça. O senhor Antónimo está sempre do contra. Como se não bastasse, veste sempre a roupa do avesso e depois ri-se, porque as etiquetas lhe fazem cócegas no queixo. O senhor Antónimo não sabe ler nem escrever, está-se borrifando para o mundo. Quando o puxam de um lado, vai para o outro. Se o tratam bem, reage mal. Se lhe pedem um favor, diz uma asneira. Nunca toma banho. Nunca sorri. Nunca pisca os olhos. A única coisa que o senhor Antónimo gosta de fazer é correr atrás dos ratos e falar sozinho numa língua esquisita que ninguém entende. Se a rua vai para cima, ele vira para baixo. Se a seta aponta para a direita, ele vai para a esquerda. O senhor Antónimo não vai propriamente a lado nenhum. Anda por aí à deriva. Não sabe de onde vem nem para onde vai. É esgrouviado.
sexta-feira, 9 de maio de 2014
segunda-feira, 5 de maio de 2014
Lá fora
Fartinho de estar em casa a anhar?
Vai lá fora passear!
Pentear macacos.
Rir como uma hiena.
Vai até Sesimbra!
Dar uma volta ao bilhar grande. Ou a uma lagoa pequena.
Escorrega na lama. Cai que nem um pato. Faz uma cena.
Não te esqueças de levar um chapéu. E uma canção alegre.
E, já agora, o Lá Fora!
Para aprenderes qualquer coisinha.
E não levares gato por lebre.
(clicar na imagem para ficar mais maior grande)
domingo, 4 de maio de 2014
Marguerite Duras
"Elle avait aimé démesurément la vie et c’était son espérance infatigable, incurable, qui en avait fait ce qu’elle était devenue, une désespérée de l’espoir même."
Marguerite Duras, Un barrage contre le Pacifique
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