quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Calçadeira

A narradora deste texto chegou a casa e foi dar com uma calçadeira no quarto. Estava refastelada em cima da cómoda e a narradora ficou uns bons segundos a olhar para ela. A calçadeira: Nunca viste, ó? E realmente não, a narradora nunca tinha visto uma calçadeira assim, a puxar o pé para a chinela. Além disso, não gostava que lhe pisassem os calcanhares, portanto descalçou a bota. Gritou-lhe: Calça-me. E a calçadeira obedeceu.
Aaaaaah, maravilha! Há mais ingratos que sapatos, de facto.
Como foi possível perder tantos anos a calçar botas sozinha, a esmagar o dedo indicador contra a bota? Que vida triste, aquela.
Agora, com a sua calçadeira, até dava gosto calçar-se. E quem calça por gosto, não descalça.
O dedo indicador também ficou logo mais solto. Olha para isto: até se pôs a escrever. Coitado, é que andava mesmo condoído.