Está quase. Um passo em frente e não tarda já estamos do outro lado, nada mau. Gosto desta ideia de passar o ano, de
ver os foguetes a estourar ao longe e gente em cima das cadeiras. Ou alemães a mergulhar
no rio. Ou então só o Herman José na televisão. 10, 9, 8, uma excitação, 4, 3,
2, pára tudo, zeroooo. Uma rolha contra o teto, champanhe por todo o lado, borbulhinhas
no céu-da-boca, beijinhos, abraços, bom ano! E, pronto, já estamos no
ano seguinte, a começar qualquer coisa que ainda não se sabe ao certo o que é, mas, se for uma coisa boa, que dure para sempre. Se for má, que
acabe logo. Gosto de estar no carrossel dos dias, cada um no seu
cavalinho, para baixo e para cima, sempre em frente. No final, estamos todos
tontos por causa dos pulos e do champanhe, bem bom. Também gosto de olhar
para trás só para ver as coisas ao longe. E, se puder ser, ao sabor de doze
passas de uva, diz que é tradição. Blaargh, não gosto nada de comer doze passas de seguida, mas como na mesma. Felizmente
sou apoucada, não tenho doze desejos. Tenho só um e é sempre o mesmo. Digo-o
doze vezes seguidas, tipo mantra. E depois fico por ali noite fora numa
grande tontura, a dar no champanhe. Ou então não. A festa acaba cedo, dorme-se
sobre o assunto, na madrugada do dia 1, o primeiro dia de todos. Também gosto
desta expectativa, deste tempo de espera que passa mas não passa, nunca mais é
hora. Fazer o check-in online, fazer a mala, imprimir o bilhete, apanhar o
autocarro, descobrir que me esqueci disto e daquilo, que chato, ir para a fila do
drop-off, tirar os sapatos, apitar no raio-X, desejar Bonnes fêtes aos
seguranças, entrar no avião, adormecer no primeiro parágrafo do primeiro dia, acordar com as palavras: Senhores passageiros, estamos a descer para
Lisboa. Atrasar o relógio. Olhar pela janelinha e ver as nuvens e depois as luzinhas e depois as
casas. É tudo tão mais bonito em Lisboa, parece que até vejo melhor ao longe, que engraçado. Um passo em frente e não tarda já estou do outro lado.
Mas enfim.
Para variar, já estou com o carrossel à frente dos bois.
Ainda vou na parte de
apanhar o autocarro. Que seca... O tempo passa, mas não passa.