Para a Dessi.
Chama-se Dessislava e faz 28 anos. A Dessislava é como o Dorian Gray, só que é uma mulher do século XXI e não tem um retrato secreto. A Dessislava é jovem para sempre, porque tem um riso fácil e um cabelo um pouco ingénuo, aos caracóis. Ou então porque é pequena ou parece pequena e encolhe os ombros quando se ri. A Dessislava ri à gargalhada, mas não faz muito barulho quando ri à gargalhada. Ninguém trata a Dessislava por Dessislava, toda a gente a chama Dessi. A Dessi abraça as pessoas, dá-lhes beijinhos. Tem uns dedos pequeninos e toca ao de leve nos nossos ombros, nas nossas mãos, diz que nos adora, que tem saudades nossas, que quer sair connosco, beber connosco, dançar connosco. A Dessi diz isto a toda a gente. A Dessi faz perguntas. A Dessi faz algumas perguntas descabidas. Outras perguntas são muito íntimas. Também faz perguntas políticas, perspicazes, profundas, de resposta difícil. Nem sempre ouve as nossas respostas às suas perguntas. Não sabemos porquê. A Dessi anda à procura do amor, da humanidade e de outras coisas abstractas. Tem um emprego das 9 às 5, é competente. A Dessi foi sozinha ao Chile. Também foi sozinha ao Japão e ao Havai, conhece sempre muitas pessoas nessas viagens. A Dessi conhece muitas pessoas em todo o mundo. Nasceu numa pequena aldeia na Bulgária, mas nós não sabemos onde fica essa aldeia. Já conhecemos a sua mãe, uma mulher cheia de força com música nos dedos que se mudou para Iémen. A Dessi foi a Iémen visitar a mãe. Há turistas que não voltam de Iémen. A Dessi voltou. Tivemos medo de que não voltasse. A Dessi podia ser uma personagem, mas é uma pessoa de verdade. Nós gostamos muito da Dessi.