segunda-feira, 20 de julho de 2009

Da noite e do espaço


Sonhava muitas vezes que voava até à última nuvem e mergulhava para fora da Terra. O voo era tão silencioso que deixava de ser e o corpo caía devagar.
No Espaço.
Trazia vestido um fato de astronauta e a respiração repetia-se na cabeça como as ondas da praia.
O Espaço era igual à noite.
Havia certas luzes que interrompiam a escuridão e, portanto, muitas sombras. Havia também sons desconhecidos, tão misteriosos e longínquos que era necessário conter a respiração para ouvi-los.
O corpo vestido de astronauta boiava no Espaço de planeta em planeta, assistia ao nascer de outros sóis. Nem sempre sabia regressar à Terra.
O ar expirado embaciava o visor, por isso também era preciso conter a respiração para contemplar.
Nos sonhos bons, a Terra resplandecia inteira num outro céu e os lobos uivavam para ela. O corpo regressava, então, a casa.
Nos sonhos maus, a Terra não estava à vista e o corpo perdia-se para sempre no Espaço.
Aquele astronauta tinha, como é natural, um certo fascínio pelo Espaço. Mas gostava mais da Terra. Muito mais da Terra.
Vista do Espaço.