Gostaríamos de trazer pela mão um coração dourado.
Não um cão, não um papagaio, não um brinquedo nem uma criança.
Gostaríamos de trazer pela mão um coração dourado. Independente.
Maior do que o corpo, do que as portas das casas. Mais aberto do que as janelas.
Um coração impossível, flutuando no ar como uma nuvem. Como um balão.
Gostaríamos de trazer pela mão um coração independente dourado.
Para respirarmos mais alto. Mais profundo.
Mais ar, mais sentimento.
Um coração maior do que o corpo.
Para sermos mais humanos, mais transparentes.
E percorreríamos as ruas da cidade para que os outros vissem o nosso coração, sentissem o nosso pulsar.
Para que tocassem nos nossos ventrículos.
Bem que nós gostaríamos de percorrer a cidade trazendo pela mão aquele coração dourado. E partilhar todo aquele sangue, todo aquele amor, todo aquele engenho, para os quais nunca tivemos corpo nem alma nem tempo. Nem arte.