Neste fim-de-semana tive vontade de dar um par de estalos no Johnny Depp. Um estalo com a palma da mão direita e outro com as costas da mão direita, tudo isto em dois segundos: traz, traz.
Há quase 20 anos, na altura da série 21 Jump Street, o Johnny Depp era-me tão indiferente como bróculos cozidos, mas agora já não é assim. Gosto dele como de queijo fresco e eu gosto muito de queijo fresco.
Comecei a ter um fraquinho pelo Johnny Depp na altura do cavaleiro sem cabeça, por causa do rosto muito branco e do fato muito negro, o seu ar sombrio que trazia à memória os vestígios das suas inesquecíveis mãos de tesoura. O Johnny Depp tinha, já nessa altura, o Bem e o Mal no corpo, a Bela e o Monstro.
Este contraste cativa-me.
Quando se vestiu de Willy Wonka, quis saltar para dentro da sua cartola para entrar na sua cabeça. Também simpatizei com a sua madeixa branca e com o seu rosto ainda mais obscuro em Sweeney Todd.
Todas estas personagens e também o facto de Johnny Depp ter encarnado, a certa altura, Sir James Matthew Barrie fizeram com que lhe perdoasse todos os disparates, incluindo o bigode e a pêra que usou naquele filme enjoativo sobre chocolate.
Mas só quando Johnny Depp perdeu definitivamente o tino e pintou os olhos de negro para se transformar em Jack Sparrow é que tive vontade de me atirar ao mar e procurar aquele pirata improvável.
Ora, neste fim-de-semana fui ver o Public Enemies. O Johnny Depp é, nem mais nem menos, John Herbert Dillinger, o bandido americano mais procurado dos anos 30 que assalta bancos como quem rouba ameixas no quintal do vizinho. Johnny Depp anda com uma arma por baixo do sovaco, veste fato completo com colete no meio, frequenta bares de jazz e conquista a belíssima Marion Cotillard com duas frases: I like baseball, movies, good clothes, whiskey, fast cars... and you. What else you need to know?
Isto passou-se no filme, como é evidente, porque, na vida real, qualquer mulher – especialmente a Marion Cotillard – teria passado por cima de Johnny Depp, calcando-o cuidadosamente com os finíssimos saltos altos. Na vida real, com esta deixa, só Al Pacino teria levado a rapariga para casa. Mesmo o Robert De Niro não teria conseguido mais do que um beijinho na testa.
O Johnny Depp é ridículo num papel igual aos outros, porque não é um homem igual aos outros. O Johnny Depp é especial de corrida, tem de ser tratado como tal. O Johnny Depp devia ser fustigado por tentar ser igual aos outros.
Tenho a certeza de que Marion Cotillard não pensaria duas vezes, se tivesse pela frente o pirata das Caraíbas. Também ela se atiraria ao mar.
O Johnny Depp é um saltimbanco e não um assaltante de bancos. E devia levar um par de estalos para ver se aprende a lição.
Há quase 20 anos, na altura da série 21 Jump Street, o Johnny Depp era-me tão indiferente como bróculos cozidos, mas agora já não é assim. Gosto dele como de queijo fresco e eu gosto muito de queijo fresco.
Comecei a ter um fraquinho pelo Johnny Depp na altura do cavaleiro sem cabeça, por causa do rosto muito branco e do fato muito negro, o seu ar sombrio que trazia à memória os vestígios das suas inesquecíveis mãos de tesoura. O Johnny Depp tinha, já nessa altura, o Bem e o Mal no corpo, a Bela e o Monstro.
Este contraste cativa-me.
Quando se vestiu de Willy Wonka, quis saltar para dentro da sua cartola para entrar na sua cabeça. Também simpatizei com a sua madeixa branca e com o seu rosto ainda mais obscuro em Sweeney Todd.
Todas estas personagens e também o facto de Johnny Depp ter encarnado, a certa altura, Sir James Matthew Barrie fizeram com que lhe perdoasse todos os disparates, incluindo o bigode e a pêra que usou naquele filme enjoativo sobre chocolate.
Mas só quando Johnny Depp perdeu definitivamente o tino e pintou os olhos de negro para se transformar em Jack Sparrow é que tive vontade de me atirar ao mar e procurar aquele pirata improvável.
Ora, neste fim-de-semana fui ver o Public Enemies. O Johnny Depp é, nem mais nem menos, John Herbert Dillinger, o bandido americano mais procurado dos anos 30 que assalta bancos como quem rouba ameixas no quintal do vizinho. Johnny Depp anda com uma arma por baixo do sovaco, veste fato completo com colete no meio, frequenta bares de jazz e conquista a belíssima Marion Cotillard com duas frases: I like baseball, movies, good clothes, whiskey, fast cars... and you. What else you need to know?
Isto passou-se no filme, como é evidente, porque, na vida real, qualquer mulher – especialmente a Marion Cotillard – teria passado por cima de Johnny Depp, calcando-o cuidadosamente com os finíssimos saltos altos. Na vida real, com esta deixa, só Al Pacino teria levado a rapariga para casa. Mesmo o Robert De Niro não teria conseguido mais do que um beijinho na testa.
O Johnny Depp é ridículo num papel igual aos outros, porque não é um homem igual aos outros. O Johnny Depp é especial de corrida, tem de ser tratado como tal. O Johnny Depp devia ser fustigado por tentar ser igual aos outros.
Tenho a certeza de que Marion Cotillard não pensaria duas vezes, se tivesse pela frente o pirata das Caraíbas. Também ela se atiraria ao mar.
O Johnny Depp é um saltimbanco e não um assaltante de bancos. E devia levar um par de estalos para ver se aprende a lição.