Estavam aninhados numa árvore a papaguear.
Eu vivo no terceiro andar de um prédio de esquina e eles vivem no segundo andar de uma árvore, que fica mesmo no meio da rotunda.
São papagaios miúdos, de cauda comprida.
Na verdade, não são bem papagaios. São periquitos-de-colar.
Hoje tirei-lhes uma fotografia.
Estavam a arrumar o ninho numa grande algazarra.
Um ia buscar pauzinhos e os outros gritavam com ele.
Esse pau, não, dizia um. Aquele ali é mais flexível.
Era um grande chinfrim no meio da rotunda, no meio da estrada, no meio da cidade.
Mas as pessoas não se zangam com os periquitos que parecem papagaios.
Riem-se para eles.
São tão exóticos. Tão pequeninos. Tão coloridos.
Uma pessoa pergunta: Não terão frio?
Alguém responde: Se vieram cá parar, é porque gostam de estar aqui.
Se calhar devíamos olhar para os imigrantes como olhamos para os periquitos.
Com alguma curiosidade. Com um pouco de ternura. E um certo espanto.
Talvez então parássemos de papaguear discursos provincianos com tiques nacionalistas.
Arre!