quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Papel de alumínio

Uma rapariga senta-se no parque, em frente ao lago. Debruça-se sobre um embrulho em papel de alumínio. Procura pacientemente a ponta do papel alumínio, o princípio ou o final da folha.
Descobre-a.
Eis o embrulho desembrulhado.
É só uma sandes murcha. Pão escuro e com sementes, talvez seco, talvez insosso. Nhec. Avistamos uma folha de alface, uma fatia de tomate e talvez queijo.
A rapariga come a sandes sem pressa. Distrai a mão esquerda com a folha de papel de alumínio, que vai amachucando com os dedos. No final aperta o papel de alumínio com as duas mãos.
A folha de alumínio é agora uma esfera perfeita. A rapariga aprecia a sua rotação, gira a esfera na palma da mão.
Um pequeno mundo na palma da mão.
O que fazer com um pequeno mundo?
Destruí-lo.
A mão encontra novamente a ponta do papel, o princípio ou o final da folha. A esfera rebola desazendo-se. A rapariga estica a folha de papel de alumínio, olha para ela, para o reflexo torcido do seu rosto na folha de papel. Espelho meu, espelho meu.
A rapariga embrulha agora a mão esquerda na folha de papel de alumínio como se embrulhasse uma sandes ou um presente. Dobra uma ponta e depois outra.
Contempla a mão embrulhada e estica os dedos até furar o papel. A mão liberta-se.
A rapariga interessa-se pela folha de alumínio, que tem uma face cintilante e outra face opaca.
É maleável e resistente. Além disso, é um bom isolante térmico.
A rapariga pensa no seu coração embrulhado numa folha de papel de alumínio. A isolar o calor. O seu coração como um pequeno embrulho.
A rapariga levanta-se. Antes mesmo de abandonar o parque, atira a folha de alumínio para o caixote do lixo.
A rapariga pensa no seu pequeno mundo. No seu reflexo torcido.
Também a rapariga tinha uma face cintilante e uma face opaca.