A narradora deste texto pensou então que, se os seres humanos olhassem para um
poema com a mesma exaltação com que olham para uma bola de futebol, haveriam de andar por aí inspirados e sentimentais, a correr
atrás de uma estrofe redonda que nunca mais é real, a agarrar rimas pelo braço, a cabecear sonetos. Passariam os dias e as noites de lira ao colo a declamar poesia. E nunca perderiam a voz. Nem o Norte. Nem as estribeiras.
Seriam mulheres e homens românticos e desaforados como versos livres.
E, mais dia menos dia, haveriam de inventar o futebol para lhes passar o lirismo.