No sábado passado algo de absolutamente extraordinário se passou em Aveiro: a ria rumorejou a história de todos os amores e os moliceiros soergueram-se na ria, entraram pela praça do Rossio, atravessaram o mercado do peixe e já não eram moliceiros, vejam bem!, eram mulheres empinando os narizes, os lábios coloridos de escarlate, velas cobrindo o cabelo, sirgas penduradas ao pescoço. Infelizmente ninguém deu por isso, o que foi ainda mais extraordinário. Àquela hora todos se distraíam da cidade, imergidos que estavam nas suas vidas ou nas lojas do Fórum. Outros houve que se encontravam no Museu de Aveiro, assistindo à entrega dos prémios aos jovens criadores, que eram jovens e criadores e tinham, por isso, esperança na vida, no amor, na arte e noutros substantivos abstractos.
Oh, grande perda aquela!
Os moliceiros passeando-se na cidade, sabedores de todos os segredos, e os jovens criadores comendo ovos-moles, distraídos, perplexos, regozijados. Tão jovens, tão criativos.
Coitados!