Para a Tanya, o Vladi e o Victor.
Ainda não conhecemos o Victor, mas imaginamo-lo moreno e brando como certas tardes de Outono, os dentes alinhados num sorriso bom.
Ainda não conhecemos o Victor, porque o Victor ainda não nasceu.
O Victor vai nascer daqui a pouco, hoje mesmo, pelas 18 horas, mais coisa menos coisa.
(No final do texto, é provável que já tenha nascido.)
Ninguém conhece o rosto do Victor, nem mesmo os pais, porque o Victor esteve sempre escondido no ventre da mãe, a olhar para as suas mãos.
Gostaríamos que o Victor tivesse nascido ontem, não por ter sido domingo, mas por ter sido o nosso dia de anos. Seria uma coincidência feliz e teríamos algo em comum com o Victor. No entanto, o Victor não quis nascer no domingo.
O Victor não mostra o rosto a ninguém. O Victor não deu a cambalhota quando devia. Quando a mãe come doces, o Victor dá pontapés.
O Victor quis nascer na segunda-feira, embora não possamos dizer com toda a certeza que o Victor tenha nascido na segunda-feira, porque o Victor ainda não nasceu.
A mãe do Victor, que é morena e branda como certas tardes de Outono, não gostava de chocolate antes de o Victor existir.
O Victor mudou o mundo antes mesmo de nascer.
Imaginamo-lo moreno e brando como certas tardes de Outono, os dentes alinhados num sorriso bom, as mãos nos bolsos, encostado ao muro da escola a fazer promessas de amor em búlgaro, uma língua de sons secretos, de alfabeto secreto, inatingível.
O Victor ainda não nasceu, mas já existe há muito tempo.
Simpatizamos com o Victor.
Porque gosta de chocolate. Porque não deu a cambalhota quando devia. Porque mudou o mundo antes de nascer. Porque decidiu nascer no dia 9 do 8 do 10. O Victor deve ter jeito para números.
O Victor tem uma personalidade forte. Gostamos de pessoas assim.