Uma mulher na casa dos vinte chegou à conclusão de que o mundo se virou contra ela pelo simples facto de as nuvens, que ainda há pouco eram impossivelmente brancas como nos quadros de Magritte, serem agora cinzentas como os velhos. O facto de as nuvens serem agora cinzentas como os velhos estragava o dia à mulher na casa dos vinte. E isto por diversas razões:
Primeira razão: a mulher na casa dos vinte estava de bicicleta.
Segunda razão: a mulher na casa dos vinte estava a caminho de uma sessão de ginástica ao ar livre.
Terceira razão: a mulher na casa dos vinte não tinha trazido um casaco.
Ora, na cabeça da mulher na casa dos vinte, a qual trazia um capacete redondo como o mundo injusto, o mundo só podia ter-se virado contra ela.
Primeira razão: a mulher na casa dos vinte estava de bicicleta.
Segunda razão: a mulher na casa dos vinte estava a caminho de uma sessão de ginástica ao ar livre.
Terceira razão: a mulher na casa dos vinte não tinha trazido um casaco.
Ora, na cabeça da mulher na casa dos vinte, a qual trazia um capacete redondo como o mundo injusto, o mundo só podia ter-se virado contra ela.
Na cabeça das mulheres na casa dos vinte, o mundo é, tal como elas, uma mulher na casa dos vinte e vira-se, tal como elas, contra as outras mulheres.
(As mulheres na casa dos vinte passam o tempo a ver o seu reflexo nas coisas e nos outros: o mundo inteiro é uma reprodução do seu corpo e da sua cabeça redonda como o mundo injusto.)
A mulher na casa dos vinte decidiu que, para se vingar do mundo injusto e redondo como o seu capacete, ia sentar-se em frente à televisão e ver, de seguida, todos os episódios da quarta temporada das Donas de Casa Desesperadas.
(As Donas de Casa Desesperadas são uma série interessantíssima, precisamente porque as protagonistas são mulheres na casa dos quarenta e não mulheres na casa dos vinte.)
A mulher na casa dos vinte pensava em tudo isto (no mundo que se virou contra ela, nas nuvens cinzentas como os velhos, nas Donas de Casa Desesperadas, nas mulheres na casa dos quarenta, no seu casaco e na sessão de ginástica ao ar livre) enquanto pedalava a caminho da sua televisão, a cabeça enfiada dentro do capacete redondo como o mundo injusto.
De repente, sentia-se francamente mais animada.
A mulher na casa dos vinte decidiu que, para se vingar do mundo injusto e redondo como o seu capacete, ia sentar-se em frente à televisão e ver, de seguida, todos os episódios da quarta temporada das Donas de Casa Desesperadas.
(As Donas de Casa Desesperadas são uma série interessantíssima, precisamente porque as protagonistas são mulheres na casa dos quarenta e não mulheres na casa dos vinte.)
A mulher na casa dos vinte pensava em tudo isto (no mundo que se virou contra ela, nas nuvens cinzentas como os velhos, nas Donas de Casa Desesperadas, nas mulheres na casa dos quarenta, no seu casaco e na sessão de ginástica ao ar livre) enquanto pedalava a caminho da sua televisão, a cabeça enfiada dentro do capacete redondo como o mundo injusto.
De repente, sentia-se francamente mais animada.
Não com a perspectiva de ver, ainda hoje, todos os episódios da quarta temporada das Donas de Casa Desesperadas. Mas com a perspectiva de se tornar uma pessoa mais interessante com a idade.
As mulheres na casa dos vinte são impossíveis como os quadros de Magritte. E ainda mais enfadonhas do que as nuvens desta cidade, as quais são cinzentas (como os velhos) e injustas (como o mundo).