No primeiro dia, a rapariga ficou mais velha. Acordou de manhã e viu isso mesmo, que estava mais velha. A constatação passou-se em frente ao espelho, mas o envelhecimento não, tinha sucedido provavelmente antes, durante a noite. A rapariga só dera por ela de manhã e olhou para si própria em frente ao espelho. Fenómeno esquisito.
Depois foi fazer café. A rapariga, agora mais velha, pensou que não era mau envelhecer.
O homem ilimitado andava à solta pela casa e assobiava ilimitadamente. A rapariga chamou-o como quem chama um pássaro, mas o homem ilimitado não era um pássaro porque era mais parecido com o Peter Pan: tinha uma terra longínqua dentro dele. Além disso, tinha asas nas mãos, nos pés, nas orelhas, nos cabelos. Também tinha voos no corpo e muitos ventos. Não era um pássaro.
A rapariga, agora mais velha, ligou a música. Ouvia M. Ward dia sim, dia não: num dia passava os minutos todos atrás dele, no dia seguinte ignorava-o, para que ele fosse atrás dela. Uma história de amor como as outras. Naquele domingo, por exemplo, a rapariga não ouviu M. Ward, o que foi uma pena, porque o M. Ward tinha sido a banda sonora perfeita para aquele primeiro dia.
A rapariga, agora mais velha, comia torradas despreocupadas com ovos mexidos. O homem ilimitado também. Falavam de boca cheia porque queriam comer e falar ao mesmo tempo.
Não, não era mau envelhecer. Desde que houvesse pão e café de manhã. Desde que a música tocasse aos domingos. E o homem ilimitado assobiasse. Ilimitadamente. À solta pela casa.
Não, não era mau envelhecer. Desde que houvesse pão e café de manhã. Desde que a música tocasse aos domingos. E o homem ilimitado assobiasse. Ilimitadamente. À solta pela casa.