O sentimento, visto de frente e a olho nu, tentava caminhar na direcção oposta ao resto da pessoa, pendurava-se no final dos dedos para tentar ancorar o corpo, mas os braços navegavam em direcção a Este. O sentimento era, por natureza, mais leve do que as borboletas e nada podia contra o peso do cérebro, do estômago e dos pés. 
A pessoa caminhante sentia aquele sentimento pendurado nos dedos e, no entanto, seguia em frente. 
Em direcção a Este. 
De súbito, por lhe faltar a força e o corpo, o sentimento largou o dedo indicador e caiu por causa da força da gravidade. Felizmente, o resto da pessoa apercebeu-se da queda livre e apanhou o sentimento com a outra mão. 
Ambos suspiraram de alívio. Entreolharam-se.
A pessoa cerrou o punho para não mais perder o sentimento.
Caminhava, ainda assim, na direcção oposta.
 
