segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Tempestade de areia


Por vezes, nos dias maus, penso naquele último episódio da Tieta do Agreste. Naquela tempestade de areia absolutamente assombrosa que engole a cidade e as pessoas. Eu cá vi a telenovela, não li o livro. E lembro-me bem desse momento: um deserto inteiro a entrar pela minha vida dentro, a derrubar a minha infância. Um pedaço de nada a surgir do nada. E a verdade é que no final tudo acaba. O bom e o mau. O melhor e o pior. Fica só a areia e o vento. Nos dias maus, penso que o bom do aquecimento global é que isto vai acabar depressa. Numa tempestade de areia ou algo assim. Entrementes, enquanto por aqui andar, vou continuar a ouvir Caetano Veloso e a ler Daniel Galera. Espero ainda ir a tempo de pôr os pés num deserto e ler a Tieta do Agreste. Ler, acreditar, resistir. Por esta altura, a minha esperança mais esperançosa é que, um dia destes, algum artista brasileiro escreva um sambinha bem gostoso e democrático sobre o Bolsonaro. Sempre rima com aquela expressão: o barato sai caro. Eu quero dançar esse sambinha em homenagem ao nordeste brasileiro e a todas as terras a leste e a oeste em todas as regiões do mundo que vão ser engolidas, grão a grão, passo a passo, por esta impressionante tempestade de areia.