Ficamos nisto muito tempo. Ele ao meu colo e eu a baloiçar devagarinho. Os dois calados. À escuta. Três canções, quatro, seis, oito, um álbum inteiro. Eu olho para ele e ele olha para a coluna de som, essa caixa negra e misteriosa. Os olhos arregalados. As pestanas muito quietas e longas.
Às vezes aperto-o contra mim à procura de mimo, mas ele afasta-me com as mãos e os braços, estica a cabeça. Quer ter os olhos e os ouvidos completamente disponíveis para aquela divindade musical, onde moram todas as vozes e todos os ritmos. Se me afasto da coluna de som, ele chora. Quer encarar a música de frente. Com deslumbramento e audácia.
Eu danço e ele deixa-se baloiçar, só para me fazer a vontade.
A minha cria - este ser humano minúsculo - quer perceber a origem da música. Ou algo assim do género.