O leite sobe. A neve cai. A noite cai.
Uma noite muito longa e fria.
Uma noite imensa, que
nunca mais vai acabar.
É uma noite para toda a eternidade.
Cai por terra como
um assombro. E não há como escapar.
O meu filho chora. Eu choro. As minhas maminhas choram também.
Caímos todos das nuvens. Caímos na tristeza. Caímos em nós.
Eu e o meu filho na
noite: dois mamíferos melancólicos.
Ando a ler Marguerite Duras. Uma
edição mal-ajeitada.
As folhas desprendem-se à medida que leio. Caem que nem tordos.
É uma leitura para este outono.
As folhas caem. Ele dorme. E eu leio.
“L'amant est venu près d'elle, il a mis son corps contre le
sien. Il dit qu'il sait ce qu'elle a en ce moment, ce désespoir, cette peine.
Il dit que c'est comme ça, quelquefois, à une certaine heure de la nuit, ce
désarroi, qu'il sait comme on est perdu. Mais que ce n'est rien. Que c'est
comme ça pour tout le monde la nuit quand on ne dort pas. Il dit que peut-être
ils vont s'aimer, qu'on ne sait pas tout de suite.
Et puis il la laisse pleurer.
Et puis elle dit que peut-être elle a faim.” (L’amant de
la Chine du Nord, Marguerite Duras)
Mais uma folha caída. Mais uma noite imensa.
E então levanto-me e como pão com manteiga.
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