Li O Nome da Rosa quando ainda não tinha bem idade para ler O Nome da Rosa.
Ou seja, foi na idade certa. Fiquei logo a perceber o poder da literatura errada.
Demorei-me várias semanas no século XIV a percorrer o labirinto daquele mosteiro.
Lembro-me bem dos monges copistas. Daquela moça na cozinha. E, acima de tudo, da biblioteca proibida, no último andar, onde moravam os livros mais perigosos de todos, que se riam sozinhos.
Os monges diziam-me: Cuidado com a literatura, pequena. Os livros errados provocam o riso e também a morte. No riso está a perversão e o demónio.
Não te rias, pequena.
Cedo compreendi que os livros também matam. Que a comicidade é uma arma perigosa.
Com o Umberto Eco aprendi o prazer da leitura.
Aprendi a cair em tentação.
E a morrer a rir.