segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Biblioteca Fnac Kids - 100 livros que crescem contigo

Atenção, pequenos leitores e grandes educadores:
A Fnac acaba de publicar a nova Biblioteca Fnac Kids - 100 livros que crescem contigo.


Esta é a segunda seleção de livros feita pela Fnac para os leitores mais novos (dos 0 aos +10).
As duas Bibliotecas Fnac Kids estão disponíveis nas lojas Fnac e também aqui e aqui. Vale a pena conhecê-las!

Resta-me informar que tanto o Supergigante como a Karate kid fazem parte desta seleção.
Pontapé no ar! Yaaaa!

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A claridade fugidia

Acabo de ser atingida por um raio místico. 
Estou no comboio, a agitar o corpo e a alma numa viagem para o Porto, a ler Uma Viagem à Índia.
De súbito, num momento de qualidade ascética, um raio de luz aterrou escancarado no livro. Era o único pedaço de sol na carruagem. 
Uma faísca certeira a iluminar uma estrofe do demoníaco Gonçalo M Tavares. Como se aquela página fosse a entidade eleita. 
Os meus olhos, depois da escuridão, habituaram-se à luz. Leram a estrofe 97 do Canto IV:

"E um homem não conhece a sua verdadeira ambição
até passar por uma tragédia forte, uma tragédia individual. Só se sabe olhar, depois
de se aprender. E olha-se melhor no primeiro momento
a seguir ao sono. Ter os olhos fechados é afinar a pontaria,
é preparar a íris negra para a rápida
claridade que nos foge."

Interrompi a leitura e escrevi isto. 
Para ultrapassar o assombro. E agarrar a claridade fugidia.


quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Pintar os dedos

Eu não pinto as unhas.
Pinto os dedos. Com esferográficas e canetas de feltro.
Gosto das minhas mãos assim. Secas, gretadas e às pintinhas.
Eu penso que as canetas fazem de propósito. Largam tinta, escorregam, explodem nas mãos. São desajeitadas com intenção.
As minhas canetas pintam a manta. Pintam a macaca. Fazem figuras. Borram a pintura.
E nunca pintam a cara de negro. Estão-se nas tintas.
Por causa disso, as minhas mãos têm grande pinta.
São muito mais bonitas assim.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Papel de alumínio

Uma rapariga senta-se no parque, em frente ao lago. Debruça-se sobre um embrulho em papel de alumínio. Procura pacientemente a ponta do papel alumínio, o princípio ou o final da folha.
Descobre-a.
Eis o embrulho desembrulhado.
É só uma sandes murcha. Pão escuro e com sementes, talvez seco, talvez insosso. Nhec. Avistamos uma folha de alface, uma fatia de tomate e talvez queijo.
A rapariga come a sandes sem pressa. Distrai a mão esquerda com a folha de papel de alumínio, que vai amachucando com os dedos. No final aperta o papel de alumínio com as duas mãos.
A folha de alumínio é agora uma esfera perfeita. A rapariga aprecia a sua rotação, gira a esfera na palma da mão.
Um pequeno mundo na palma da mão.
O que fazer com um pequeno mundo?
Destruí-lo.
A mão encontra novamente a ponta do papel, o princípio ou o final da folha. A esfera rebola desazendo-se. A rapariga estica a folha de papel de alumínio, olha para ela, para o reflexo torcido do seu rosto na folha de papel. Espelho meu, espelho meu.
A rapariga embrulha agora a mão esquerda na folha de papel de alumínio como se embrulhasse uma sandes ou um presente. Dobra uma ponta e depois outra.
Contempla a mão embrulhada e estica os dedos até furar o papel. A mão liberta-se.
A rapariga interessa-se pela folha de alumínio, que tem uma face cintilante e outra face opaca.
É maleável e resistente. Além disso, é um bom isolante térmico.
A rapariga pensa no seu coração embrulhado numa folha de papel de alumínio. A isolar o calor. O seu coração como um pequeno embrulho.
A rapariga levanta-se. Antes mesmo de abandonar o parque, atira a folha de alumínio para o caixote do lixo.
A rapariga pensa no seu pequeno mundo. No seu reflexo torcido.
Também a rapariga tinha uma face cintilante e uma face opaca.