De vez em quando parece que engulo a cassete da nostalgia. Fico melancólica e carrancuda. Ando para a frente e para trás, para a frente e para trás.
Foi o que me aconteceu no outro dia, quando vi um leitor de cassetes: os botões volumosos e emperrados, a gaveta de plástico. Carreguei logo no Play e comecei a andar à roda.
Tenho saudades das minhas cassetes. De abrir as capas. De escrever nas etiquetas "R.E.M" ou "Mega mix". De colar canções com fita-cola.
De ficar a ver a música passar de um lado para o outro.
De carregar nos botões.
Rewind, stop, play.
A vida era quadrada e transparente como as cassetes.
O que enrolava de um lado, desenrolava do outro.
E tudo tinha um lado A e um lado B.
A música era para ouvir, ver e tocar.
Depois passou-me esta fita, claro.
As cassetes eram uma porcaria.
Algumas canções ficavam gastas.
E era preciso ter força nos dedos para ouvir música.
Tínhamos mãos desengonçadas como os botões.
Stop, eject.
Bendito século XXI.
É tudo muito mais sensível ao toque. Muito mais sofisticado e eficiente.
Neste momento, tenho centenas de canções no bolso.
Embora meta sempre a mesma cassete.