As noites são longas e a chuva perdura. O futuro é certo. A vida desacelera.
Uma pessoa espera pelo elétrico, outra pessoa escova o cabelo em frente ao espelho, outra bebe um café ao balcão.
E a vida, afinal, não é curta. É extremamente longa. Nunca mais acaba.
Em certos dias, somos imortais.
O dia de amanhã será um dia igual a hoje, que é igual a ontem.
Há um certo conforto na previsibilidade dos dias.
Tudo é imutável.
Noutros dias, a vida acontece. Nada é igual. Tudo muda. Onde não havia coisa alguma passa a existir tudo e o contrário também. Onde existia tudo, passa a haver coisa nenhuma.
Passear por Nagasaki tem esse efeito sobre os dias.
Nada é igual, nada é imutável.
Num dia, o carteiro passa a correr na rua, a distribuir cartas a toda a velocidade, e amanhã talvez não seja assim. Os corvos sobrevoam o parque, mas amanhã não se sabe. É uma incógnita. As crianças atravessam a rua com as educadoras, uma rapariga compra um bolo numa pastelaria, um homem ri-se sozinho no elétrico, duas adolescentes descem a rua a comer batatas fritas, e amanhã talvez não seja assim.
Certos dias não são iguais nem previsíveis.
Em Nagasaki deve ser assim.
Tudo é diferente 70 anos depois.
O desconforto da incerteza, a dúvida constante.
Talvez por isso o carteiro corra de casa em casa e as educadoras sorriam tanto.
Não temos controlo sobre quase nada. Não sabemos nada sobre quase tudo. E a vida, afinal, não é longa. É extremamente curta.
Tudo muda, tudo evolui.