Eu nunca gostei de doce de laranja, porque o doce de laranja não é doce, é uma coisa amarga, e eu não gosto de me sentir enganada. Há anos que não toco em doce de laranja. Mas no outro dia, não sei porquê, senti-me mais velha e decidi tentar outra vez. Foi logo de manhã, sem pensar muito, num rasgo de curiosidade e ousadia. Uma amiga tinha trazido o frasco de Londres, very typical. Era um frasco gorducho. Trazia o nome Orange marmalade na tola e dizia por baixo since 1885, que é sempre uma longevidade que impõe algum respeito, são várias gerações de marmelada. Abri o frasco, barrei o pão e trinquei. De novo um arrepio na espinha acompanhado de uma dor aguda no céu-da-boca, que coisa horrível. Continuo a odiar doce de laranja. Fechei o frasco e devolvi-o ao frigorífico. A minha vida, felizmente, continuou como dantes, doce e não amarga.
Há coisas que realmente não mudam.
E eu, apesar de não ser pêra doce, sou esta doçura de pessoa. Não há nada a fazer.