O turista ocidental não é turista, é outra coisa. Não vai onde os turistas vão, não usa a piscina do hotel, não quer sequer um hotel com piscina. O turista ocidental é aberto e curioso, quer coisas simples. Dorme em hostels baratuchas e vai onde os autóctones vão. Os autóctones são diferentes e especiais de corrida. O turista ocidental, que é uma pessoa culta, observa-os e aprende. O turista ocidental é uma autêntica criança adulta. Tem a vida toda pela frente, é imaginativo. Traz uma mochila de 60 litros às costas com muitos bolsos e fechos. Dentro da mochila complicada traz um livro de um autor autóctone, roupa suja, roupa lavada, o guia do Lonely Planet, acessórios. O turista ocidental tem o mapa da cidade no bolso, não se perde, é escuteirinho. Senta-se num bar dos autóctones, é simpático e comunicativo, quem o viu e quem o vê. Diz Bom dia! e Obrigado! na língua dos autóctones, é uma pessoa interessada. Lê as dicas do Lonely Planet: o que ver, o que comer, a história dos autóctones, a cultura dos autóctones, a religião, o comportamento, tudo sobre os autóctones. O turista ocidental sabe tudo sobre os autóctones, é incrível. Passeia-se pelas ruas e olha para os edifícios, para as pessoas, para as montras, é uma criança adulta. Mete conversa com os vendedores, faz perguntas inesperadas, ri-se. Como se isso não bastasse, tira fotografias artísticas ao pôr-do-sol e às sombras das árvores, é uma pessoa criativa. Passadas três semanas, o turista ocidental está um autêntico autóctone. Come como os autóctones, bebe como os autóctones, faz tudo o que os autóctones fazem, é incrível. Quando volta para casa, sente-se diferente, único, especial de corrida, é finalmente uma parte do todo. Porém, engana-se, coitado. O turista ocidental não é especial de corrida. É igualzinho aos outros turistas ocidentais, sem tirar nem pôr. Faz tudo o que os outros fazem, come o que os outros comem, bebe o que os outros bebem. Não é um autóctone na terra dos autóctones, é um estranho, um estrangeiro, um turista ocidental. Está tão sozinho como os estrangeiros sozinhos, é tão diferente como eles, é arrogante. Não sabe nada sobre os autóctones e não é uma parte do todo, é um peixe fora de água. Um turista. Uma pessoa estranha ao serviço. Uma criança adulta sem imaginação.
O turista ocidental é um autóctone de outro mundo. Um autêntico Lonely Planet.