O mais velho para mim: “Mamã, os manos estão sempre a conversar.”
É verdade.
Brincam durante horas. Falam, falam, falam. Às vezes um faz de bebé ou então de animal em apuros. “Sou um tigre criança, estou perdido.” O outro ajuda-o. “Queres viver comigo?” “Está bem.”
De súbito há uma reviravolta no enredo. Por exemplo: “Olha! É o nosso foguetão!“ E o outro: “E agora vamos para a Lua.” Andam de um lado para o outro. Descobrem um esconderijo. Decidem que aquela vai ser a sua casa. “É a nossa casa”, diz um. E o outro: “Sim. É a nossa casa.” Ficam bastante tempo a preparar as suas camas.
Anunciam que vão dormir no seu esconderijo. “Mamã, podemos dormir aqui esta noite?”
Aqui: no parque infantil, no chão da sala de estar, no relvado da piscina, no meio do bosque. Sim, sim, podem dormir aí.
Eles pedem-me água e comida para não passarem fome nem sede durante a noite. Eu arranjo-lhes água e comida. Depois discutem a questão do frio. Digo-lhes para se taparem com a manta do sofá ou a toalha de praia ou a manta de piquenique, o que estiver à mão. Eles ficam felizes com as suas caminhas. Levam livros e brinquedos para a sua casa nova. Também levam pratos e copos, fingem que bebem café, fazem tchim-tchim.
Depois um deles distrai-se e abandona a história. “Já não quero brincar mais a isso.” O outro fica furioso. Barafusta. Dá ou leva um estalo, o outro empurra de volta, alguém cai no chão. Choram os dois, falam ao mesmo tempo, não se percebe nada do que dizem. É preciso separá-los. Lágrimas longas e grossas. Um diz: “O mano não quer brincar comigo”. E o outro: “Eu não quero brincar mais.”
Percebo o sofrimento de um e a fartura do outro. Chegaram juntos a este mundo. O que acontece a um, acontece ao outro. Cai um dente a um, cai um dente a outro. Um faz anos, o outro também. Entraram juntos na creche. Entraram juntos na escola. Contam segredos, fazem promessas. Um quer muito aprender a ler. O outro só quer correr e saltar.
Chegam a todo o lado com aquele ar perdido de quem entra numa floresta. Dão as mãos, avançam juntos. Têm-se um ao outro. Nunca estão sozinhos.
Os meus dois tigres criança. Os dois muito iguais mas diferentes. Amiguinhos mas adversários. Carinhosos mas severos.
Fazem hoje 6 anos. Fiz um bolo para cada um. O primeiro saiu-me bem. O segundo queimou-se. Fiz então um terceiro, que também se queimou ligeiramente.
O bolo mais queimado ficou em casa. Comi duas fatias logo pela manhã, uma por cada filho.
Hoje é tudo a duplicar. Ou a triplicar. É tudo à grande.
Parabéns, parabéns, parabéns, parabéns.
Bolo, bolo, bolo, bolo.
Tchim-tchim, tchim-tchim, tchim-tchim, tchim-tchim.