quinta-feira, 8 de agosto de 2024

42

42 anos. Lavei finalmente este cabelo. Pus uns brinquinhos. 


Já não uso biquini. Uso fato de banho. Tenho praí uns cinco. São todos azuis. Nenhum me fica propriamente bem. 


Celulite, varizes, pelo na venta. Uma pessoa perde beleza e candura. Mas ganha frontalidade e clareza. Já não ando com rodeios. Já não evito conflitos. 


Aos 42 anos, a minha mãe teve um esgotamento e nunca mais foi a mesma. 


Num livro de ficção científica que não li mas talvez venha a ler, 42 é a resposta à pergunta fundamental sobre o universo e a vida. À noite, se me ponho a pensar no universo e na vida, já não durmo. Desde há uns anos, tudo me tira o sono: os filhos, as eleições, o clima, o Donald Trump. Muitas vezes acordo a meio da noite e não volto a adormecer. 


Levanto-me, espreito os meninos, endireito-os, tapo-os, fico a ouvir a sua respiração. Que lindos são os meus filhos. Deito-me ao lado do homem da minha vida. Só ali estou segura. Não durmo, mas sossego.


O ser humano sobrevive duas semanas sem água nem comida, mas não consegue sobreviver sem dormir. Um facto conhecido: Há muito mais mulheres a sofrer de insónias do que homens. 


A privação de sono afeta a nossa memória, a nossa capacidade de decisão, a nossa criatividade, o metabolismo, o sistema cardiovascular, o sistema imunológico, o sistema hormonal e o sistema nervoso.

Ou seja, quem dorme mal, lixa-se, e bem! 

O cansaço das mulheres poderá ser a pergunta fundamental sobre a vida e o universo.


Suspiro bastante. Bebo menos café. Bebo menos álcool. Choro à frente de qualquer um.


Felizmente há livros a dar com pau. A noite avança e eu leio. Às vezes também escrevo. Why not? As pessoas perguntam-me: Quando escreves? Como escreves? Não estás cansada?


Eu cá estou cansada, meus amigos, e também estou inquieta. Por isso mesmo, leio. Por isso mesmo, escrevo. Li bons livros este verão. Não escrevi nada de jeito.


No fundo, eu leio e escrevo para me tranquilizar. Para me abstrair. Para descansar.


Umas fotos deste verão: bolinhos, sardinhas, uma rede, um vício e eu.