Já não uso biquini. Uso fato de banho. Tenho praí uns cinco. São todos azuis. Nenhum me fica propriamente bem.
Celulite, varizes, pelo na venta. Uma pessoa perde beleza e candura. Mas ganha frontalidade e clareza. Já não ando com rodeios. Já não evito conflitos.
Aos 42 anos, a minha mãe teve um esgotamento e nunca mais foi a mesma.
Num livro de ficção científica que não li mas talvez venha a ler, 42 é a resposta à pergunta fundamental sobre o universo e a vida. À noite, se me ponho a pensar no universo e na vida, já não durmo. Desde há uns anos, tudo me tira o sono: os filhos, as eleições, o clima, o Donald Trump. Muitas vezes acordo a meio da noite e não volto a adormecer.
Levanto-me, espreito os meninos, endireito-os, tapo-os, fico a ouvir a sua respiração. Que lindos são os meus filhos. Deito-me ao lado do homem da minha vida. Só ali estou segura. Não durmo, mas sossego.
O ser humano sobrevive duas semanas sem água nem comida, mas não consegue sobreviver sem dormir. Um facto conhecido: Há muito mais mulheres a sofrer de insónias do que homens.
A privação de sono afeta a nossa memória, a nossa capacidade de decisão, a nossa criatividade, o metabolismo, o sistema cardiovascular, o sistema imunológico, o sistema hormonal e o sistema nervoso.
Ou seja, quem dorme mal, lixa-se, e bem!
O cansaço das mulheres poderá ser a pergunta fundamental sobre a vida e o universo.
Suspiro bastante. Bebo menos café. Bebo menos álcool. Choro à frente de qualquer um.
Felizmente há livros a dar com pau. A noite avança e eu leio. Às vezes também escrevo. Why not? As pessoas perguntam-me: Quando escreves? Como escreves? Não estás cansada?
Eu cá estou cansada, meus amigos, e também estou inquieta. Por isso mesmo, leio. Por isso mesmo, escrevo. Li bons livros este verão. Não escrevi nada de jeito.
No fundo, eu leio e escrevo para me tranquilizar. Para me abstrair. Para descansar.
Umas fotos deste verão: bolinhos, sardinhas, uma rede, um vício e eu.