O Planeta Tangerina faz 20 anos. Fogo. É mesmo muito tempo. Quando lá cheguei, a história já ia para lá de meio. E que bom foi aterrar nesse astro.
Esta foto é da festa do Planeta Tangerina em 2014. Nela lançamos para o espaço o “Supergigante” e também o “Com o tempo”. Foi na Casa Independente. Foi há quase 7 anos. Era verão, estava calor.
Olho para esta fotografia e vejo os meus pais e os meus tios. Vejo a Marta a roer as unhas. Vejo o Rui Gonçalves e o Manuel Miranda, que já não andam por cá. Vejo até o Sérgio Godinho, que me pediu um autógrafo e eu não sabia o que escrever, que nervos. Não vejo a Joana, que tinha acabado de dar à luz um bebé muito fixe que hoje em dia é um rapaz muito fixe. Não vejo a Isabéu, que apareceu mais tarde. Não vejo o Johnny, mas sei que ele estava lá.
Olho para esta fotografia e lembro-me do meu estado de nervos, da Isabel Minhós sempre rija e calorosa, lembro-me do Afonso Cruz a falar pelos cotovelos, lembro-me daquela esplanada da Casa Independente, da saudade que eu senti de uma Lisboa que nunca foi minha, do Bernardo a cirandar por ali de chinelos, do pai da Madalena Matoso que conheci nesse dia, do autógrafo aos tremeliques que dei ao José Mário Silva, da boa onda da Cris e da Carol na palheta com os meus pais, do sorriso da Guerreira, que me fazia tanta falta em Bruxelas mas estava tão feliz em Lisboa.
Foi um dia tão alegre e tão triste ao mesmo tempo. A minha corrida Supergigante chegava ao fim nesse dia. Estava muito calor. E eu sentia-me tonta, vazia e cansada.
Tinha dado tudo o que tinha a esse livro. Não era muito, mas era tudo.
Toda a minha euforia, toda a minha dor, toda a minha fúria, todo o meu fôlego. E agora o livro corria sem mim. Qualquer um podia pegar nele. Qualquer um podia rir-se da minha prosa, desdenhar daquele rapaz a correr. Na melhor das hipóteses, talvez alguém gostasse do livro, oxalá o Supergigante encontrasse algum leitor com vontade de correr com ele. Era o que desejava para este meu segundo livro. Gostei tanto de o escrever, de sofrer com ele, de correr com ele.
O que seria deste livro sem o apoio incansável da Isabel Minhós Martins que me dizia frontalmente “gosto disto, mas não gosto nada daquilo”? O que seria do livro sem as ilustrações techno sound do Bernardo? O que seria de mim sem esta festa do Planeta Tangerina? Não sei.
Felizmente não corro sozinha. Corro com eles. Com os habitantes do Planeta Tangerina. São pessoas tão fixes e, ainda por cima, tão sérias e competentes e geniais e amigas.
Que coisa tão boa me aconteceu na vida. Aterrar assim no Planeta Tangerina. E andar por lá a correr e a saltar!