Ocorreu-me agora que passei o Dia das Bruxas na cozinha. Entre outros feitiços, fiz uma sopa de legumes para aquecer a psique e curar os males do mundo. É um ritual simples, mas ainda assim mágico.
Primeiro lavei os legumes. Brócolos, tomate, feijão verde. Nabo, beringela, beterraba. A natureza bela, com todas as suas formas, todas as suas cores. Cortei os legumes às fatias no meu altar de madeira e atirei-os para o caldeirão. A água sagrada a fervilhar de entusiasmo. No final disse a minha reza e lancei uma pitada de sal. Seguiu-se o tempo da espera e do feitiço. Oxalá o remédio surja. Oxalá a humanidade vença. No final provei a minha poção mágica com a colher de pau.
Não era má, a sopa. Era boa.
Ao menos isso.
Neste planeta Terra, tão virado do avesso, em que todos os sonhos parecem falhar, eu escolho o deslumbre das coisas domésticas, tão verdadeiras que parecem encantadas.
Uma colher de pau. Uma pitada de sal. E uma sopa de legumes.
Eis o feitiço do Dia das Bruxas. A minha magia real. O meu bruxedo doméstico.
Enquanto houver esperança, hei de voltar ao caldeirão. Para imaginar a magia. E salvar a inspiração.