terça-feira, 27 de novembro de 2018

Dez quilos de identidade

O meu filho com um ano de idade. Com os seus caracóis. Com aquele ar compenetrado de quem tem uma opinião sobre o assunto. O meu filho a franzir o sobrolho. A olhar para um livro. A comer pão. A pigarrear como um velhinho. Um entendimento qualquer nos olhos. Uma certa paz nos gestos. Como se já tivesse cá estado antes. O meu filho a esfregar o olho. A puxar os botões do casaco. A rasgar uma folha. A morder o sofá. A gatinhar. A estrebuchar. A rir. A dormir. A gritar. A chorar. A bater no espelho. A bater na máquina de lavar roupa. A enfiar-se no alguidar.
O meu filho cada vez mais real. A existir cada vez mais. Tão grande. Tão pequeno. Com ranho no nariz. Com a chupeta ao contrário. Com o macaquinho pela mão. Com cócegas nos pés.
O meu filho, com dez quilos de identidade. Que eu compreendo cada vez mais, mas não conheço nada bem. 
Tão íntimo. Tão nosso. Tão meu.
Tão daqui e dali. E ao mesmo tempo tão misterioso. Tão ele. Tão desconhecido.
O meu filho a existir neste mundo, mas ainda não completamente. Não anda, não desanda, não fala. 

E eu fico aqui assim, a vê-lo existir, com a certeza pasmada de que ainda não sei quem ele é, de que nunca vou saber. O meu filho ri-se e bate palmas. É um ser humano de carne e osso.


sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Mary John na Cidade do México

¡Mira quién va a México!
No próximo domingo, a Mary Jo vai entrar de rompante pela FILIJ - Feria Internacional del Libro Infantil y Juvenil da Cidade do México.


Eu não vou lá estar e tenho pena, claro. Gostava à brava de assistir a esta conversa entre a autora Martha Riva Palacio Obón e a "booktuber" Alejandra Arévalo. Além disso, gostava de dar a mãozinha à Mary Jo, né?
Fogo... Mãe é mãe!

Boa sorte, Mary Jo! És tão jovem, tão ingénua, tão azul. Só me trazes alegrias.

Mega edição das Ediciones El Naranjo com uma tradução impec da Paula Abramo.

sábado, 3 de novembro de 2018

"Como desenhar o corpo humano" no Deus me Livro

A antologia dos Jovens Criadores
"Como desenhar o corpo humano" está em destaque no Deus Me Livro: http://deusmelivro.com/mil-folhas/como-desenhar-o-corpo-humano-v-a-24-10-2018/



Texto de Natacha Cunha:

"Da prosa à poesia, há aqui textos para todos os gostos, capazes de desafiar as fronteiras entre géneros e romper com convenções literárias. Estruturas inovadoras que acompanham temas diversos, dos quais sobressai a imaginação. Desde o diário de viagem ao drama, da saga infantil ao humor, até mesmo ao “prontuário existencial”, a leitura é uma viagem pela criatividade, numa celebração da inovação da juventude e da ideia de literatura enquanto exercício de liberdade."

Oh yeah!
Juventude, literatura e liberdade. É do que este mundo precisa.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

O meu bruxedo doméstico

Ocorreu-me agora que passei o Dia das Bruxas na cozinha. Entre outros feitiços, fiz uma sopa de legumes para aquecer a psique e curar os males do mundo. É um ritual simples, mas ainda assim mágico.
Primeiro lavei os legumes. Brócolos, tomate, feijão verde. Nabo, beringela, beterraba. A natureza bela, com todas as suas formas, todas as suas cores. Cortei os legumes às fatias no meu altar de madeira e atirei-os para o caldeirão. A água sagrada a fervilhar de entusiasmo. No final disse a minha reza e lancei uma pitada de sal. Seguiu-se o tempo da espera e do feitiço. Oxalá o remédio surja. Oxalá a humanidade vença. No final provei a minha poção mágica com a colher de pau.
Não era má, a sopa. Era boa.
Ao menos isso.
Neste planeta Terra, tão virado do avesso, em que todos os sonhos parecem falhar, eu escolho o deslumbre das coisas domésticas, tão verdadeiras que parecem encantadas.
Uma colher de pau. Uma pitada de sal. E uma sopa de legumes.
Eis o feitiço do Dia das Bruxas. A minha magia real. O meu bruxedo doméstico.
Enquanto houver esperança, hei de voltar ao caldeirão. Para imaginar a magia. E salvar a inspiração.