terça-feira, 25 de abril de 2017
A liberdade a subir a rua
A liberdade a subir a rua. Com as suas ancas visionárias, os pés intensos. A mascar pastilha. À escuta. A dobrar a esquina. Sem pressa. Sem frio. Talvez com fome. A liberdade de mochila às costas. De auscultadores nos ouvidos. Com aquele seu ar afogueado de pessoa enlouquecida. A ouvir música. A devorar medos e angústias. A pensar em queijo parmesão. Em manjericão. A liberdade a passar em frente às lojas. Em frente aos bancos e aos pedintes. Em frente às putas. A liberdade parada em frente a uma vitrine. Estática e inteira. Como um manequim. Como uma pessoa de verdade. A liberdade a ver-se ao espelho. A hesitar num pensamento. A tropeçar no passeio. Num sentimento de culpa. A liberdade à espera. A espreitar o horizonte com os seus olhos em chamas. A liberdade a entrar no autocarro. A enviar mensagens no WhatsApp. A ouvir um podcast. A rir sozinha. Às dez da manhã. Ao meio dia. A toda a hora. Permanentemente. A liberdade sempre. Em qualquer caso. Em qualquer lado. A qualquer custo. A liberdade flamejante. Obstinada. Omnisciente. Frágil. Cheia de soltura e de graça. A andar pela vida como se fosse a verdade. Permanente. Constante. Sozinha. Total. Livre.