segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Mostra dos Jovens Criadores 2012
Apareçam e digam como foi!
Eu lá estarei no dia 22, para o café literário, que é assim um café com cheirinho, servido em chávena escaldada por onde sai uma nuvem de vapor que conta histórias de encantar.
Acho eu...
Não tenho bem a certeza.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
Lançamento - Avenidas sem sentido - 19/12/2012
Uma folha tem frente e verso. Uma direção tem dois sentidos.
Mas nem todas as direções têm nexo. Nem todos os sentidos têm setas.
E nem todos os livros acabam.
Eu estou sempre a mudar de página. Mas nem sempre de capítulo.
Sei lá, apeteceu-me escrever isto.
Na próxima quarta, às 18h30, no piso 7 do El Corte Inglês, uma Avenida sem Sentido para cada um de vós.
Apareçam!
A queda de um ovo
Uma mulher tira do frigorífico uma caixa de seis ovos com quatro ovos lá dentro. Data de validade: 15/12, não há tempo a perder. Pega no primeiro ovo que é, infelizmente, de natureza irrequieta: foge da mão e cai. A mulher insulta-o (Ovo estúpido!). Logo a seguir, ainda o ovo não chegou ao chão, desiste dele, parte para outro. Mas-eis-senão-quando, o improvável acontece: o ovo não atinge logo o chão, demora-se um bom bocado com a ajuda das suas asas inexperientes e, antes de completar a queda, percorre metade da queda e, antes disso, metade da metade da queda e, antes disso, metade dessa metade e logo o pequeno ovo se distrai e assobia, porque não há fim para aquela matemática de cair a metade da metade da metade. O desenlace é ainda mais extraordinário, porque o ovo pousa inteiro e direitinho no chão. A mulher espanta-se, qual é coisa qual é ela. Quando pega no ovo, há nos seus dedos um outro respeito, um outro cuidado, uma outra dedicação. A mulher pensa em várias coisas ao mesmo tempo: na galinha dos ovos de ouro, no ovo de Colombo, no Kinder Surpresa. Decide, depois, não partir o ovo. Para adiar a queda, talvez. Para acreditar num milagre, certamente.
O narrador deste texto encolhe os ombros, acha tudo isto extremamente patético. Por ele, atirava o ovo contra a parede. Só para ver o que está lá dentro.
A mulher guarda o ovo milagroso no frigorífico. Parte o segundo o ovo com uma só mão e esse lá cai redondo e amarelo na frigideira. Infelizmente, amanhã o ovo milagroso já passou da validade, será um ovo podre como os outros. Mas disso não se lembra a mulher, que nunca sabe a quantas anda.
O narrador deste texto encolhe os ombros, acha tudo isto extremamente patético. Por ele, atirava o ovo contra a parede. Só para ver o que está lá dentro.
A mulher guarda o ovo milagroso no frigorífico. Parte o segundo o ovo com uma só mão e esse lá cai redondo e amarelo na frigideira. Infelizmente, amanhã o ovo milagroso já passou da validade, será um ovo podre como os outros. Mas disso não se lembra a mulher, que nunca sabe a quantas anda.
Exaltado, o narrador entra pelo texto adentro, abre o frigorífico e atira o ovo contra a parede. Mistério resolvido: era um ovo como os outros, só que mais resistente. O narrador sai do texto, satisfeito.
A vida, afinal, prosseguia como antes.
Sem mistério, sem romance. Sem milagres.
Aaaah, pensou o narrador, muito melhor assim.
A vida, afinal, prosseguia como antes.
Sem mistério, sem romance. Sem milagres.
Aaaah, pensou o narrador, muito melhor assim.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
O meu amigo de inverno
O meu amigo novo é preto e tem metade do meu tamanho. Gosto de me abraçar a ele, de lhe apertar os botões. Tem pelo por fora e penas por dentro, é fofinho como uma almofada. Sim, o meu amigo novo é um casaco de inverno, que me assenta tão bem como um amigo de verdade. O meu amigo a fingir é feito de poliéster e poliamida, tem um capuz de pelo que me faz comichão no nariz e eu espirro e rio-me ao mesmo tempo. Andamos abraçados pela rua, damos beijinhos um no outro, contamos segredos. As pessoas olham para nós com as suas caras ruçadas e puídas, cheias de cobiça e preconceito, mas eu e o meu amigo não as vemos nem as ouvimos, estamos de cabeça enfiada no capuz. Nada me aquece como o meu amigo de inverno. Nada nos afeta. Nem a chuva, nem a neve, nem a gente. Tenho as mãos frias e o coração quente. Graças ao meu amigo de inverno.
E também porque passo a vida a perder as luvas.
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