Não percebo grande coisa de francês, mas aprecio o idioma. Sou sobretudo sensível aos seus malabarismos fonéticos. De todas as delícias da língua francesa, o que mais me atrai é mesmo o acento tónico. Cai quase sempre na última sílaba, a marcar o compasso.
Bonjour. Rendez-vous. Merci beaucoup.
É bonito.
As palavras terminam no auge da sua existência, altas e sonoras, cheias de expectativa e juventude.
Liberté. Égalité. Fraternité.
Em português também existem as chamadas palavras agudas, mas a nossa língua é mais dada a palavras graves.
É pena. As palavras graves não têm tanta graça. São mais discretas e resignadas. O acento cai-lhes na penúltima sílaba. Não encorajam o sonho nem o sorriso. Sobem e descem logo a seguir. São palavras decepcionantes.
Em francês, passa-se o oposto. As palavras têm um final feliz. Saem para o mundo com grande exuberância e positivismo, de rabinho empinado. Estou aqui a pensar que talvez por isso a língua francesa esteja tão associada ao romance e à sensualidade. Bougies. Bijoux. Bisous.
Fico com vontade de utilizar mais palavras agudas no meu discurso em português. A bem da minha felicidade e autoconfiança.
Por exemplo: canapé tornedó frenesi. Ou então: cafuné quiçá aqui. Chuchu rodapé querubim.
Chega de palavras graves na minha vida. As agudas têm um efeito positivo no meu bem-estar.
Bambu duplex Bogotá. Aliás canguru javali.
Uh là là. Um dó li tá. Estou a adorar este parlapiê.
Jacaré paletó croché. Sofá chulé assim.
E agora as minhas preferidas: sururu dominó abacaxi.