Ora bem, eu nunca fui grande fã do Sting. Não gosto lá muito de homens com mente e corpo sãos, parecem-me bonecos de brincar e não meninos de verdade. Além disso, os gritinhos do Sting sempre me incomodaram um pouco, porque tenho tímpanos muito sensíveis e não associo gritinhos aos homens de verdade. A juntar a isto devo dizer que, se a canção do
Desert Rose fosse uma coisa de verdade, já a tinha atirado pela sanita abaixo porque acho a canção um bocado parola e pretensiosa, de English man em Nova Iorque que quer muito ser um cidadão do world music. É claro que na minha pré-adolescência suburbana e pobre de espírito achava a letra da canção
Every Breath You Take absolutamente genial, mas isso depois passou.
Tudo isto para dizer que, quando me anunciaram que o Sting vinha a Bruxelas, bocejei e pedi uma bica cheia, porque me deu um sono incrível. Mas passados estes meses, como sou uma verdadeira Ana-vai-com-as-outras, acabei mesmo por ir ver o Sting ontem à noite numa sala acolhedora e muito redondinha, a uns 30 metros do senhor.
E a verdade é que até me deu uma aguda parolice no peito quando o vi entrar. O Sting ali estava, mente e corpo sãos, a dizer umas patacoadas em francês e neerlandês e eu fiquei nervosinha como um passarinho, porque nunca pensei ver o Sting logo ali à mão de semear e apalpar para ver se é de carne e osso. O Sting afinal existia e mexia as pernitas enquanto tocava no baixo. Era um bonequinho de brincar, mas afinal o Sting não é um boneco de brincar, é um homem a sério, uma voz a sério, uns braços e pernas que, aos 60 anos de idade, upa-upa, são de facto um assunto de grande seriedade.
Os outros músicos também eram pessoas a sério: uma tipa loura que não precisava dos seus saltos de 10 centímetros para se fazer ver e ouvir, um baterista brutalíssimo bate-bate-coração, dois guitarristas irrepreensíveis e um violinista com muita pinta, saído de um Spaghetti Western.
A voz do Sting não envelheceu, o que é outro assunto sério. E os gritinhos do Sting, afinal, não incomodam nada, são bem queridinhos. Fez-se então luz no meu coração suburbano e pobre de espírito, porque andava a negar um amor antigo e o Sting - mente e corpo sãos - é um amor de verdade.
No final, cantei o
Message in a Bottle como se não houvesse canção mais bonita. E hoje apeteceu-me escrever sobre isto, no estilo
SOS to the world, porque sou sensível e parola como uma autêntica rosa do deserto.