Fui a Barcelona e a Granada com mais dezanove pessoas. Tenho esta sina de fazer viagens a lugares estranhos com gente estranha, nada de grave. Ganhei um iPod shuffle que será uma óptima prenda de Natal para um dos meus primos e também um Notebook chamado Aspire que tem um teclado espanhol e que ainda nem sequer liguei. Conversei pela primeira vez com uma rapariga de Israel e com uma outra da Palestina. Não falei com elas sobre o conflito porque eu não sabia o que dizer sobre o conflito. Optei por falar sobre homens com a primeira e sobre fotografia com a segunda, assuntos enfadonhos em qualquer parte do mundo. O egípcio escreveu a história dele à beira-mar, disse-me isto umas três vezes. A marroquina não podia beber álcool, tive imensa pena dela. Morava na Holanda. Não conseguia usar muito bem o auricular para ouvir a interpretação do espanhol para inglês, porque tinha os ouvidos tapados com lenços lindíssimos. O turco não podia comer porco, pelo que não pôde saborear a fatia de bacon estaladiço que vinha sentada em cima do salmão. Um desperdício. A lituana era vegetariana por opção, bem como a finlandesa e uma das eslovenas e outras pessoas ainda. O vegetarianismo está na moda. A eslovena vegetariana vestia-se de roxo e tinha uns óculos enormes, estudou dramaturgia. Tinha pinta de dramaturga. O tipo do Montenegro media, à vontade, dois metros. Acho sempre que as pessoas que medem dois metros passam o dia inteiro a jogar basquetebol, por isso estranhei que um tipo de dois metros gostasse de escrever. Não falei muito com o tipo do Montenegro, porque passava o tempo aos segredinhos com uma das polacas. Acabo sempre por me dar bem com eslovenos, não sei porquê. Não temos nada a ver com os eslovenos, mas eu gosto deles e eles também gostam de mim. Vou à Eslovénia no próximo Verão. Já estava decidido antes desta viagem. O espanhol e o italiano diziam piadas que só eles percebiam. Só os latinos percebem os latinos. Não cheguei a trocar uma única palavra com a tipa da Albânia, parece-me. Não houve oportunidade e a tipa da Albânia não gostava lá muito de falar. Não me choca. Uma das polacas falava melhor francês do que inglês, porque vivia em Paris. A outra polaca morava na Finlândia, porque tinha casado com um finlandês. Ossos do ofício. O croata também era casado, mas não tinha filhos, acho. Uma das eslovenas não era casada, mas já tinha um filho. Tinha imensas saudades do filho. Quanto mais próximos estávamos do fim da viagem, mais feliz ela estava. No último dia, andava aos pulinhos. A finlandesa era bissexual. Falámos muito sobre sexo com a finlandesa, como é óbvio. Outro assunto enfadonho. A lituana só tinha 18 anos, falava pouco. O letão usava um chapéu à cowboy, também falava pouco. Fizemos muitas coisas em grupo. Saímos juntos, bebemos juntos, rimo-nos juntos, dançámos juntos. Mas a certa altura não podia ver nenhuma destas pessoas à frente. Queria estar sozinha em casa, a comer pizza, vestida com o meu pijama e o meu roupão, a ver uma série fora de moda como o 24 horas. No entanto, aturei-os até ao fim e quando me vi sozinha no aeroporto de Barcelona, tive pena de não me ter despedido de todos. Com um abraço ou algo do género. Não sei porquê. O palácio da Alhambra é das coisas mais bonitas que vi na vida. Vagueávamos pelos jardins da Alhambra e eu pensava na minha mãe, na sua tez tão escura, no seu nariz árabe. Os árabes estiveram sete séculos na Andaluzia. Isto impressionou-me. Também me impressionou o facto de eu não saber isto. Sou uma pessoa tão inculta, que vergonha de mim própria. Os árabes desapareceram da Península Ibérica. O Hitler não conseguiu tanto. Isto foi dito por uma israelita, não por mim. Granada é uma cidade lindíssima, mas não tivemos tempo para perceber se Granada era, de facto, lindíssima. Gosto de Barcelona. Gosto mais de estar sozinha do que em grupo. Decidi ler As Cruzadas Vistas pelos Árabes. Na tradução inglesa, talvez. Apenas 3% do mercado livreiro de língua inglesa é dedicado a literatura traduzida. Também não sabia isto. O meu texto foi traduzido para francês, é uma sensação estranha ler um texto meu em francês. O Amin Maalouf esteve recentemente em Bruxelas. Não o fui ver, tinha outras coisas para fazer. Há tantas coisas para fazer. Hoje vou jantar pizza. Já estava decidido antes da viagem.