sábado, 10 de fevereiro de 2018

A tagarela

Lá vem ela. A tagarela.
A respondona. A linguaruda.
Conta. Canta. Chora. Jura.
Narra. Berra. Guincha. Uiva.
Não se cala. Não se cansa.
Nunca pede. Nunca cede.
Não admite. Não confessa.
Não afirma. Nunca nega.
É fofoqueira. É trapaceira.
Diz que fez. Diz que disse.
Ela exige. Ela insiste.
É só tanga. É só garganta.
Ela argumenta e acrescenta.
Ela declara. Ela declama.
Ela protesta e desconversa.
Ela discorda. Ela discursa.
Ela discute e barafusta.
Ela diz. Ela desdiz.
Ela põe. Ela dispõe.
Mas quando vê o tal gaiato,
chico-esperto,
fala-barato,
nem parece a tagarela.
Cala o bico. Perde o pio.
Não resmunga. Não respinga.
Não comenta. Não refila.
Já não urra. Só sussurra.
Não chateia. Não aleija.
Já não conta. Já não canta.

E se tenta, até gagueja.