terça-feira, 26 de novembro de 2013

Emiliana Torrini

Se eu pudesse, também havia de cantar assim, a sacudir a cabeça, deve ser tão bom. A Emiliana tem nome de italiana, mas canta com sotaque islandês. Estive mesmo à frente dela um dia destes:


Emiliana Torrini, Botanique, Bruxelas

Dava para lhe agarrar as pernas, mas eu não lhe agarrei as pernas, não sou uma fã enlouquecida. 
Não sou, pois não? 
Claro que não. 
A Emiliana estava mesmo à minha frente e era muito mais alta do que eu, porque é maior do que os comuns mortais e também porque estava em cima de um palco. A Emiliana canta de olhos fechados e a sorrir, acho que está noutro lado qualquer. Eu gostava de ir a esse lugar secreto com a Emiliana Torrini, mas acho que ela não leva lá ninguém, precisamente porque é um lugar secreto.
Ainda não fui à Islândia, mas hei de ir.
Para já vou ler o último do Valter Hugo Mãe.
É o que há.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O que eu faço por chocolate à sexta-feira

Nada mau, a minha tradução já vai a meio. Esfrego as mãos porque tenho frio e também uma nova ideia. 
A ideia é: Acho que mereço um chocolate.
Abro o porta-moedas para contar as moedas.
Oh, que chato, afinal não tenho moedas para ir à máquina.
Penso: "Não faz mal, posso ir ao café e pagar com o multibanco".
Nice!
Vou aos pulinhos até ao elevador. 10, 9, 8 e por aí fora até ao chão.
Afinal esqueci-me do cartão de identificação. Sem cartão de identificação, não dá para sair do café, por isso volto para trás.
1, 2, 3 e por aí fora até ao 10.°. Onde é que ele está? Talvez no bolso do casaco.
Aaah, cá está ele. Agarro-o pelos colarinhos, regresso à cafetaria.
10, 9, 8 até ao chão.
Damm!
Afinal a cafetaria está fechada.
Penso: "Não faz mal, vou à papelaria." Na papelaria vendem-se papéis e também chocolates enrolados em papel. Estará fechada?
Suspense. Dobro a esquina.
Maravilha! A papelaria está aberta.
Fico 10 minutos indecisa. Este assim com noisettes ou aquele com pistaches fraîches? Mousse de café ou praliné croustillant? 
E se levar todos?
É melhor não.
Decido escolher os dois melhores e depois o melhor dos dois, sempre facilita a escolha. Fico com o de noisettes e o de praliné na mão.
Escolho o de noisettes.
Vou pagar, sorrisinho no canto da boca.
Aviso ao balcão: "Multibanco não funcemina"

What?

Não há nada a fazer, por isso desisto.
Devolvo o chocolate à prateleira e regresso ao gabinete. 1, 2, 3 até o 10.°.
Penso: "É da maneira que ando de um lado para o outro e poupo em calorias."
Parece que até já me sinto mais ágil, estou cheia de ganas de traduzir o resto do documento.
Olhem para mim a trabalhar com afinco.

Eu não preciso de chocolate para nada.
Nem sequer gosto de chocolate.
Nunca gostei.

Blaaargh! Que enjoo!
Há gente que não passa sem chocolate.
Não compreendo.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

A letra morta das canetas

Passa-se algo com as minhas canetas.
Em poucas semanas já finaram umas quatro ou cinco e a morte é sempre súbita. Zás, morreu. Falta-lhes o fôlego e sai-lhes um último suspiro de tinta, a sílaba derradeira, é triste. Resta-me sacudi-las na esperança de que voltem à consciência, mas isso nunca acontece. Ficam para ali mudas e vazias, já não há mais caneta para ninguém.
Isto incomoda-me bastante, sobretudo porque me morrem sempre nas mãos, às vezes mancham-me os dedos, é aborrecido.
À primeira vista trata-se de mortes naturais, mas esta quantidade considerável de canetas moribundas não me parece nada natural.
Fiquei mais atenta à minha escritura e começo a desconfiar da minha mão direita.
Se calhar os meus dedos andam a assassinar canetas e eu ainda não dei por isso. Sugam-lhes a tinta às escondidas. Ou asfixiam-nas assim: polegar contra indicador.
É bem possível.
Mas não há como provar isso.
Já se sabe que, na escrita, a justiça ficou no tinteiro. Não passa de letra morta.
A história é escrita pelos vencedores.

E em terra de canetas, quem sabe escrever é rei.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Yáááá Bogotáááá

Se forem a Bogotá [giroflé giroflá] deviam passar por lá [giroflé-flé-flá].
[O giroflé aqui é banda sonora para rotativos.]

[Sei lá... Apeteceu-me.]

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Jornal de Letras - Viagem no tempo e no espaço


O meu nome é Annie Person, sou a companheira do Doctor Who numa geringonça não identificada que voa em todos os tempos e espaços. Eu sou uma pessoa do passado a visitar o futuro, mas às vezes também sou o contrário. Quando calha, sou uma pessoa do futuro a visitar o passado, depende. Neste momento estou a escrever no meu caderno do passado ao lado de um homem com cara de porco. Eu escrevo: As pessoas do passado são feias.
(Continua no "diário" [contracapa] do JL desta quinzena - 11.11.2013-26.11.2013)
 

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Albert Camus

Se a vida não fosse absurda, o Albert Camus fazia hoje 100 anos. Felizmente, a vida é mesmo absurda e o Albert Camus escreveu grandes romances sobre isso (ou apesar disso) (ou além disso).
O Albert Camus é eterno. Continua de carinha laroca com três linhas na testa e cigarro ao canto da boca. Assim:
 
 
Eu conheci as palavras de Camus antes de lhe conhecer a carinha laroca com três linhas na testa e cigarro ao canto da boca. Agora que penso nisto, é como se o tivesse conhecido online, eu e o Camus a teclar no messenger. Eu pergunto: R U there? Ele responde:
Aujourd’hui, maman est morte. Ou peut-être hier, je ne sais pas. J’ai reçu un télégramme de l’asile: « Mère décédée. Enterrement demain. Sentiments distingués. » Cela ne veut rien dire. C’était peut-être hier.
 
Li o Estrangeiro na idade certa. Tinha 16 anos, acho, e andava com o moço de mão dada pela rua. Depois voltei a ler o Estrangeiro na idade certa. Tinha 20 e poucos. O Estrangeiro e eu éramos cúmplices, ele ia ao volante e eu ia no lugar do morto. Depois voltei a ler o Estrangeiro na idade certa. Tinha 30, ou quase 30, e desta vez até o li em francês, oh là là ! Nessa altura, juntámos os trapinhos, passámos a ser roommates. Ele dorme na casinha dos livros e eu durmo com outro homem numa cama king size. Isso é-lhe indiferente. O Estrangeiro não gosta de ninguém. Está-se nas tintas para mim.
Who cares?
Eu também me estou nas tintas para ele.