sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Mary John na Revista Blimunda

A edição de dezembro da Revista Blimunda já está disponível aqui: http://www.josesaramago.org/blimunda-55-dezembro-2016/

Andreia Brites dá destaque à Mary John num texto total e robusto que deixou a minha alma pasmada e a minha boca aberta.
Aqui fica o naco final:

"(...) O que esta novela consegue, e por isso é literatura de primeira água, é conjugar o singular com o universal. Rejeita a moral, o paradigma social e traz uma história de vida de uma rapariga filha de pais separados que idealiza uma relação especial e imutável com o melhor amigo, o vizinho da praceta. A mudança de idade, a presença de outros que a desafiam na sua identidade, a perda de atenção, o sofrimento que questiona. E a mudança de cidade, de escola, uma motivação sustentada pelo que se perdeu. A descoberta da paixão, de si, dos outros, de que há sempre outros. A elevação da narrativa está precisamente nos pequenos apontamentos, no equilíbrio de cada um, em que nenhuma descrição está a mais. Mary John é uma narrativa compulsiva que surte um efeito de desconcerto.

O que é literatura juvenil? É isto."

O texto completo está disponível nas imagens (em baixo) e na revista (em cima).

Vale a pena ler outros artigos da Revista Blimunda, claro. Alguns exemplos: Pilar del Río fala-nos da feira internacional do livro de Guadalajara, Sara Figueiredo Costa leva-nos a exposições de fotografia em Madrid e Andreia Brites brinca com vários "livros-jogos".

Este blogue fica-se por aqui este ano, acho.
Bom 2017!















Mary John na Revista do Expresso

Nas escolhas de 2016 da Revista Expresso, Sara Figueiredo Costa dá destaque à Mary John.

Bela surpresa!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

A Mary John no Expresso

A "Mary John" faz parte das sugestões de livros para o Natal do jornal Expresso (por José Mário Silva):
"Para a filha mais nova, não muito dada a leituras, este talvez seja o presente que a vai apanhar de surpresa e trocar-lhe as voltas. A eventual desconfiança desfaz-se logo nas primeiras páginas, quando a protagonista, Maria João, abre a sua intimidade e se coloca no lugar daquela amiga sobre a qual queremos saber tudo. Combinando a prosa ágil e inteligente de Ana Pessoa (autora de “Supergigante”) com as fabulosas ilustrações de Bernardo P. Carvalho, “Mary John” é uma viagem fascinante pelos labirintos da adolescência, contada por quem o viveu, durante a difícil mas necessária travessia."

Tau! Grande prenda de Natal!

Dez livros para animar o Natal dos mais novos

Já compraram as prendas para os mais novos, por acaso?
Se precisarem de ideias, espreitem as sugestões da Visão.
A Mary John é um dos "Dez livros para animar o Natal dos mais novos".
Escreve Gabriela Lourenço:

Inseguranças, certezas, descobertas, medos, paixões e paixonetas, amizades, alegrias e tristezas, atos de coragem e de determinação, de tudo isto se faz este relato de uma adolescente que se confronta com o seu crescimento (cresce ela, cresce a sua franja, cresce a sua carta para Júlio Pirata que nunca será verdadeiramente uma carta). Um relato que Bernardo Carvalho ilustrou a azul forte e branco, ajudando-nos a mergulhar na história. 

Eu fiquei logo animada. A Mary John também.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

O sol nasceu

A vida está preta. A fome é negra. O amor é cego.
Este mundo anda tão sinistro.
Vive-se pouco. Morre-se muito.
Uma pessoa acorda de manhã e o dia ainda está de noite.
Só apetece comer chocolate. Beber vinho tinto. Escrever baixinho.
O meu caderno muito branco a rir-se no escuro.
Ho ho ho.
Ainda assim, é Natal.
De repente fez-se luz na rua.
O meu caderno disse: O sol nasceu.
E esta frase despertou-me para uma outra rua. Para a canção da Rua Sésamo.
O sol nasceu. Como está lindo, o céu.
Eu tenho oito anos e jogo à macaca, danço a lambada. Tenho um pequeno órgão de música. Toco canções de Natal, sobretudo aquela assim: Last Christmas I gave you my heart.
Eu não percebo a letra, mas percebo a dor.
Eu canto: Que venha de dentro de mim essa nova mulher. É a canção da Toina, mas eu não quero ser a Toina. Eu quero ser a Tieta do Agreste.
Lembro-me disso. De ter oito anos. De rasgar os dois joelhos numa queda valente. De rasgar o meu vestido azul a saltar por cima de uns arbustos. No Carnaval mascarei-me de empregada doméstica. Li as Mil e uma noites numa edição ilustrada. Tinha terrores noturnos com os quarenta ladrões.
Aos oito anos usava umas fitas na cabeça que tinham um lacinho a meio. Tinha vergonha de me assoar. Engolia sempre o ranho. E era a mais alta da turma.
Eu gostava disso. De ser a mais alta da turma.
Não sei por que razão me lembrei de tudo isto agora. Afinal de contas hoje é o primeiro dia de inverno. Está um dia soturno. Tenho frio nos dedos.
Os meus sobrinhos têm oito anos. Que engraçado.
O meu caderno branco acha que eu devia ir até ao mercado de Natal. Beber vinho quente, morrer um bocado.
O meu caderno branco tem humor negro. Chama-se Mirror Mirror.
É o meu caderno de inverno.
O meu habitat natural.
O meu animal noturno.

domingo, 4 de dezembro de 2016

A culpa é da Adília Lopes

Está sol lá fora. Perguntaram-me se queria beber café às duas e meia e falar da vida. Eu disse que não me dava jeito. O meu frigorífico está vazio. Além disso, tenho de passar no oculista e na loja dos candeeiros.
Não posso continuar a escrever às escuras. E também tenho de mudar de cadeira. Doem-me as costas.
Às duas e meia não é uma boa hora para falar da vida. Toda a gente sabe isso.

Neste momento são duas e meia e ainda não saí de casa.
Podia estar a tratar da vida ou a falar da vida. Mas afinal estive para ali deitada a ler Adília Lopes.
A certa altura adormeci e depois acordei e continuei a ler Adília Lopes. No final do livro levantei-me e escrevi isto.
Não tenho sentimentos de culpa. Mas tenho alguma noção do ridículo.
Acho eu.

Tirei esta fotografia a um poema da Adília Lopes. Ficou um bocado cinzentona.
Paciência.
Isto sou eu a imitar a Adília Lopes.
Não resulta.