quarta-feira, 16 de julho de 2008

Sinais de fumo

Nessas alturas, quando a vontade de fumar regressava ao corpo e à alma, sentia uma saudade
não do fumo,
não do vício,
não do gosto,
mas de si própria atrás de tudo isso:
do fumo,
do vício
e do gosto.

Nessa época a alma era diferente,
era incrivelmente maior do que o corpo.
E a solidão era impressionista, impermeável, imperial.

Havia seres enublados que saíam da boca.
E as mãos invertidas, dignas de estátua.

Havia sobretudo Álvaro de Campos e a alma poetizada que saía,
verso ante verso
para voar junto aos estendais.

E não era. Nem queria. Fumava.
Só.

Havia na arte do fumo uma outra arte.
Aquela tal arte.
Sozinha,
bem acompanhada,
real.