quinta-feira, 19 de julho de 2007

A nuvem mais escura

No cinzento de Bruxelas há sempre uma nuvem mais escura do que as outras, uma nuvem mais condensada do que as outras e, por isso, mais chorosa. As outras nuvens dizem-lhe "Não chovas agora que ainda não é hora", mas a nuvem encolhe-se sobre si própria com as lágrimas na ponta dos olhos, à beira de um ataque de choro. Era uma nuvem, por assim dizer, mais sensível do que as outras e tinha o hábito de chover por motivos estranhos. Uma vez chorou uma intensa carga de água por causa do sol! Desculpou-se às outras nuvens dizendo que o sol lhe magoava os olhos, mas a verdade era que a nuvem mais escura do que as outras se emocionava com a luz. E hoje alguém lhe disse: "Gosto das lágrimas que trazes por dentro" e ela condensou-se mais um pouco, estava agora em estado quase líquido, era uma nuvem quase água. A nuvem mais clara (ou seja, a mais esclarecida e, portanto, possivelmente a mais velha) perguntou-lhe "Fizeram-te mal?" e a nuvem em estado quase líquido soluçou baixinho: "Não, fizeram-me um elogio!". "Então fizeram-te bem!" concluiu a nuvem mais clara "e o Bem liberta-te". A nuvem mais escura acenou com a cabeça. "Pois, eu sei! É por isso que preciso de chover!".