- Vou fazer um bolo de mármore.
- O que é mármore?
- É uma rocha.
- Vais fazer bolo de rocha?
- Mais ou menos.
Os mais novos entusiasmam-se, querem ajudar. Pesamos a farinha e o açúcar, partimos os ovos.
- E agora atenção -, digo-lhes eu, - as claras vão transformar-se numa nuvem.
Um deles muito atento, o outro impaciente. - Demora muito tempo, mamã.
No fim, as claras transformam-se numa nuvem.
- Magia!
Um deles feliz, o outro desiludido.
- Isso não é uma nuvem, mamã.
- Ai não? Então as nuvens não são brancas e fofinhas?
- As nuvens não são brancas, são pretas.
O outro minorca:
- Também podem ser brancas.
O irmão insiste: - São pretas!
Coitados dos meus filhos. Tiro uma fotografia às nuvens pretas lá fora e vou à cloud (outra nuvem!) procurar imagens de nuvens brancas.
Nessa pesquisa encontro a tisana 87 da Ana Hatherly, que fala de “uma paisagem onde nunca havia nuvens”.
E encontro também uma foto de um livro meu, onde me deparo novamente com esta pergunta: “Para que serve uma nuvem?”.
Não tiro fotografias ao bolo, que desenformo e polvilho com açúcar em pó. Estava leve e fofo. Parecia uma nuvem e não uma rocha, para grande desilusão das crianças.
A infância não acaba. Cresce. Tal como os bolos. E as nuvens. E o musgo. E as claras em castelo. E a escuridão.