terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Don Draper

Saudades do Don Draper.
Um dia destes ainda me apanho a ver a série toda outra vez.
De vez em quando penso nele. Como se fosse uma pessoa de verdade. Como se fosse um amigo. Um colega. Mas não um amante.
Não?!
Não.
Estou sentada num sofá a fazer não se sabe bem o quê. Talvez a matutar, a magicar, a conspirar.
Ou nem isso.
Estou para ali assim, pousada sobre as minhas confortáveis nádegas e lembro-me do Don Draper, esse homem criativo, déspota pedante, que trata mal todos os homens, todas as mulheres e demais seres vivos.
Aaah! O Don Draper.
Tenho saudades dos nossos momentos a dois, eu e ele naquele escritório da Sterling Cooper. Ele olhava para a janela de cigarro em punho e eu olhava para ele.
O rosto do Don Draper. Muito quieto e impenetrável.
Estamos ali os dois, a pensar naquelas coisas banais, como o sentido da vida ou o caminho para a felicidade, e não acontece propriamente nada.
Não há uma ação, um diálogo, um romance.
Os nossos pensamentos passam um pelo outro sem fazer barulho.
São pensamentos discretos, quase não existem. Ardem na ponta dos dedos, como cigarros.
E, de vez em quando, eu olho para o Don e tenho vertigens.
Não sei porquê.
Deve ser aquele perfil sólido e, ao mesmo tempo, perigoso.
O Don Draper parece um penhasco e eu, de tanto olhar para ele, fraquejo.
Ainda assim, tenho saudades dele.
Desse perigo iminente.
Desse Don Draper arrogante e vigarista, grande impostor, apanhado do clima.
Esse homem devasso e cínico. Depravado. Engenhoso. Incorreto.
Secreto. Soberbo. Retrógrado. Vagabundo. Hostil.
E, apesar disso, metódico. Corpulento. Inventivo. Valente.
E justo.
Frontal. Combativo. Brilhante.
Aaah! O Don Draper.
Grande sacana.